Andando apressado pelos corredores da Justiça do Trabalho, Paulo sentia o nervosismo comum aos novatos. Estava em cima da hora para a sua primeira audiência como profissional autônomo. Sentia-se estranho, como se todos os demais advogados e estagiários presentes ao fórum trabalhista o estivessem olhando e, pior, julgando. Vestia um quase confortável terno preto de microfibra, desses simples e baratos de cento e noventa e nove reais, comprado na véspera com a intenção de impressionar seu cliente. Os sapatos eram os mesmos de sua formatura, mas estavam bem polidos. Na mão esquerda carregava a maleta de couro preta, já bastante gasta, que foi de seu falecido pai.
Chegou ao sexto andar do prédio dois e foi direto para o banheiro. Segundo seu relógio, ainda tinha cinco minutos antes da audiência. Para os padrões de prédios públicos com grande movimento de pessoas, aquele banheiro até que era razoavelmente limpo. Paulo de Tarso procurou um lugar para largar a sua pasta e, então, após retirar o relógio de pulso, abriu a toneira e lavou o suor do rosto. A sensação da água fria o fez relaxar e permitiu que readquirisse a tranquilidade necessária para encarar a audiência. Com o rosto ainda molhado, apoiado com as mãos na pia, olhou fixamente através do espelho nos próprios olhos.
- Eu consigo – disse, enfim, para si mesmo, pronto para voltar ao saguão de espera do andar. Somente então percebeu que o banheiro não tinha toalhas de papel...
Ainda com o rosto molhado, o apito agudo dos auto-falantes soaram. Em seguida, o pregão para sua audiência foi feito por uma suave e agradável voz feminina, que pronunciava cuidadosamente os nomes das partes.
- Atenção para a audiência das oito horas e trinta minutos. Décima quinta Vara do Trabalho. Sr. Clóvis Abreu Dilcant, reclamante, e Pasquali Empreendimentos e Construções S.A.
Muito importante para todos os que lerem as postagens: por vezes estarei falando sério, postando opiniões próprias. Outras vezes estarei brincando com opiniões que poderiam ser minhas, mas não são. E por vezes postarei material totalmente fictício, frutos da imaginação e talvez um pouco influenciados pelas experiências acumuladas ao longo dos anos.
Distinguir o que é realidade e o que é ficção fica a cargo de cada um.
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quinta-feira, 16 de setembro de 2010
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
O Causídico - Episódio 1: A Entrevista
Pouco escritórios de advocacia equiparam-se ao escritório Raimundo Flach e Advogados Associados. As portas e esquadrias, todas em madeira de lei, contrastavam elegantemente com o piso de mármore negro polido. O luxo do ambiente de trabalho era finamente acabado com móveis desenhados e produzidos especialmente por famosa grife europeia – a ponto de ser o único na América do Sul a contar com tal desprendimento, segundo a revista de celebridades. Mas a elegância do escritório, que ocupa todo o nono e décimo andares do seu prédio no bairro Moinhos de Vento, o mais nobre de Porto Alegre, somente é possível pela impecável qualidade – e sobretudo resultados – que seus profissionais dedicam ao serviço oferecido aos clientes.
Naquela manhã de quarta-feira, Paulo suava frio, nervosamente, à espera de sua entrevista. Aquela oportunidade, de ser contratado pelo melhor escritório de advocacia do Estado – quiçá do Brasil, como se comentava nos corredores do Tribunal de Justiça – era única. E Paulo não desejava desperdiçá-la. Sua entrevista estava marcada para as dez da manhã. A recepção, antes cheia de candidatos àquela mesma vaga de Paulo, agora estava vazia. Paulo era o último. E lá estava ele, humilde, recém-aprovado no exame da Ordem dos Advogados e vestindo seu único terno.
Paulo observava insistentemente o ambiente. Não se parecia com nada que já tivesse visto antes. Como estagiário, trabalhou em órgãos públicos e em pequenos escritórios, tudo devidamente documentado no curriculum vitae que se amassava em suas mãos suadas. Mas a imponência daquele escritório, e sobretudo do nome de seu advogado maior – Raimundo Flach, apontado por alguns como o expoente da advocacia sul-americana – destacado em letras metálicas e douradas na parede da recepção fazia com que Paulo sentisse como se estivesse num ambiente nocivo, ao qual não pertencesse. Respirou fundo e dominou sua timidez. “Eu sou capaz.”, pensou consigo mesmo.
Naquela manhã de quarta-feira, Paulo suava frio, nervosamente, à espera de sua entrevista. Aquela oportunidade, de ser contratado pelo melhor escritório de advocacia do Estado – quiçá do Brasil, como se comentava nos corredores do Tribunal de Justiça – era única. E Paulo não desejava desperdiçá-la. Sua entrevista estava marcada para as dez da manhã. A recepção, antes cheia de candidatos àquela mesma vaga de Paulo, agora estava vazia. Paulo era o último. E lá estava ele, humilde, recém-aprovado no exame da Ordem dos Advogados e vestindo seu único terno.
Paulo observava insistentemente o ambiente. Não se parecia com nada que já tivesse visto antes. Como estagiário, trabalhou em órgãos públicos e em pequenos escritórios, tudo devidamente documentado no curriculum vitae que se amassava em suas mãos suadas. Mas a imponência daquele escritório, e sobretudo do nome de seu advogado maior – Raimundo Flach, apontado por alguns como o expoente da advocacia sul-americana – destacado em letras metálicas e douradas na parede da recepção fazia com que Paulo sentisse como se estivesse num ambiente nocivo, ao qual não pertencesse. Respirou fundo e dominou sua timidez. “Eu sou capaz.”, pensou consigo mesmo.
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