Muito importante para todos os que lerem as postagens: por vezes estarei falando sério, postando opiniões próprias. Outras vezes estarei brincando com opiniões que poderiam ser minhas, mas não são. E por vezes postarei material totalmente fictício, frutos da imaginação e talvez um pouco influenciados pelas experiências acumuladas ao longo dos anos.
Distinguir o que é realidade e o que é ficção fica a cargo de cada um.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

A Hora

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Não importa o quanto sejamos bravos, nunca estaremos preparados para o momento final. Para a morte. A procura de religiões muita vezes representa um meio de lidar com a dor – da perda de um ente amado próximo ou mesmo de encarar a derradeira verdade. Mas seja como for, o ser humano é apegado demais à vida.
Foi no início do inverno que Carolina sentiu as primeiras dores. Em sua juventude, foi uma mulher de fibra, à frente de seu tempo. Ainda cedo ficou órfã. Juntamente de sua irmã menor, foi para um orfanato público. Deus, como Carolina odiava aquele lugar. Quando moça, durante o curso de magistério, sentiu aquelas mesmas dores. Lembrava-se perfeitamente. Pareciam cólicas, como se facas atravessassem o interior de sua barriga deixando cortes extremamente sensíveis. Agora, muitos anos depois, no auge dos seus oitenta e cinco anos, as facas afiadas e pontiagudas voltaram a dilacera-la por dentro.
A manhã, ainda fria, não era nada convidativa. A geada no patio da casa era a prova visível do frio que persistia aos primeiros raios de sol. Ainda assim, com frio e com dores, Carolina decidiu sair da cama. As dores eram familiares. Já experimentara algo assim antes. E esperava resolver a situação como da outra vez: com um bom e forte chá. Sentou na cama, botou as chinelas e levantou-se para vestir seu chambre de chifom que ficava convenientemente colocado sobre o encosto de uma cadeira antiga de estofado aveludado ao lado da cama. A um piscar de olhos, acordou na cama do hospital.