Meninos em idade pré-escolar possuem uma enorme vantagem sobre homens adultos: a liberdade de chorar. Quando infantes, toleram-se as lágrimas, sejam de dor, tristeza, birra. Ou de medo, sobretudo. Porém, quando adultos, o choro é um tabu. Lágrimas não pertencem ao universo masculino. Isso não significa que homens não chorem. Muito pelo contrário – como seres humanos, homens também possuem sentimentos e, algumas vezes, choram. Mas diferentemente do sexo feminino, cada lágrima despejada por um homem é acompanhada de uma pontada de vergonha.
Desde cedo aprende-se que homens não devem chorar. Certo ou errado, é algo cultural. Chorar é sinal de fraqueza. Um homem de verdade precisa a aprender a controlar seus sentimentos e a engolir qualquer choro que possa brotar. Quando não é possível evitar, é inevitável o sentimento de fraqueza e humilhação. Não é fácil.
Se a dor é muita, é necessário ser forte e aguentar. Se a tristeza é profunda, é preciso silêncio e solidão. Se o medo faz com que as pernas fraquejem, é imperioso engolir o desespero e, contra cada fibra do seu corpo, inventar a coragem para seguir adiante. Chorar, jamais. É assim que somos educados. Não tivemos escolha.
Eu tinha cinco ou seis anos de idade. Não lembro ao certo. Era uma época feliz. Lembro perfeitamente de ser uma tarde de início de verão – ou fim de primavera. O céu estava azul, com algumas poucas nuvens brancas. Meu pai estava no pátio da chácara, já tomada pela sombra das árvores que abundavam no terreno, quando corri em sua direção. Queria, orgulhosamente, contar-lhe que meus dentes de leite estavam começando a amolecer. Na minha imaginação infantil, significava que com dentes novos eu estaria mais velho, mais pronto (sabe-se lá para o quê). Com a voz ainda aguda de menino, corri diretamente contra a barriga de meu pai e lhe contei a “novidade”: