Certas coisas não são como nos filmes.
A viagem de Carlos estava marcada há mais de semana, mas mesmo assim ela não parecia real. Passara os últimos dias debatendo com seus colegas de trabalho sobre a real necessidade de fazer os mais de quatrocentos quilômetros – oitocentos, ida e volta – que separam a capital da fronteira oeste apenas para conferir documentos de um processo. Todos, sem exceção, lhe diziam:
- É um processo importante, de nosso mais importante cliente. É necessário ir.
Vencido, porém não convencido, Carlos ainda não desejava encarar a estrada. Muito embora rodasse mais de mil quilômetros todos os meses a trabalho, aquela viagem não lhe parecia certa. Havia algo no fundo de sua mente que lhe dizia “fica em casa com teu filho, é melhor”. Mudou de tática. Novamente abordou seus colegas e seus superiores. Talvez outra pessoa pudesse ir até lá ver o tal processo. Não haviam contratado um cara novo justamente para que Carlos ficasse mais tempo dentro do escritório, cuidando de assuntos mais importante?
- Mas este processo na fronteira é muito importante – diziam os colegas de Carlos. - Tu és quem mais tem experiência sobre este assunto. Tu és a melhor indicação para ir até lá e ver estes documentos.
E assim, sentindo-se derrotado, Carlos foi dormir na véspera. O coração pesado, o carro abastecido.