Escrever é um exercício de
paciência. A necessidade de transpor em texto, ao ritmo das
dedilhadas no teclado, as palavras que constroem a coesão da trama
requer, mais que qualquer coisa, a capacidade de se por de lado a
ânsia de contar atabalhoadamente ideias que surgem em velocidade
urgente. Pensando em como é o ritmo de vida levado em dias de hoje,
de hiperconectividade e imediata exigência de resposta à toda e
qualquer comunicação, a realidade que experimentei em minha
infância, nos infames anos oitenta, demonstra que, hoje, paciência
é algo raro e que necessita – e muito – ser exercitado por mais
pessoas
Ainda criança – cinco anos,
provavelmente – estava eu na praia de Atlântida passando o
veraneio com meus avós. Meus pais, ainda casados na época,
deixavam-me com os pais de minha mãe para aproveitar o litoral
sempre que por alguma razão, como trabalho, precisavam retornar a
Porto Alegre. E eu, na praia com o vô e a vó, experimentava a mesma
rotina, diariamente.
Não havia videogame na praia. E o
fliperama só abria depois das quatorze horas. Portanto, era
necessário ocupar o dia de uma criança, criada na cidade, de uma
forma mais vagarosa. Confesso que não faço ideia de que horas
acordávamos pela manhã. Lembro apenas que minha Vó – ou minha
mãe, quando ela estava na praia junto – não tinha qualquer
remorso em abrir a janela de inopino, permitindo que os raios do sol
transbordassem quarto adentro. Ainda na cama, eu apertava os olhos,
cerrados do sono leve da manhã, na vã esperança de continuar
dormindo mais um pouco.
Era hora de nos arrumarmos para ir à
beira da praia.