Muito importante para todos os que lerem as postagens: por vezes estarei falando sério, postando opiniões próprias. Outras vezes estarei brincando com opiniões que poderiam ser minhas, mas não são. E por vezes postarei material totalmente fictício, frutos da imaginação e talvez um pouco influenciados pelas experiências acumuladas ao longo dos anos.
Distinguir o que é realidade e o que é ficção fica a cargo de cada um.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Princesinha

Princesinha.

Não houve discussão. Todos concordamos que ela era uma verdadeira princesinha. Pequena, macia, bonita, com cabelos negros esvoaçantes que emolduravam seus olhos azuis que mais pareciam jóias de uma coroa.

Definitivamente uma princesinha.

Era inverno. A noite estava fria, mas ainda assim insistimos em reunir a turma da praia. À excessão do Ricardo, que morava no interior, todos nós morávamos na região metropolitana. Fomos ao bar favorito do Cenoura, afinal a ocasião era para comemorar seu novo emprego.

Chegamos no bar juntos, Julinho, Rafão e eu. O frio parecia impedir o Julinho de fazer sua mágica com as garotas na calçada em frente ao bar, por isso nos apressamos a entrar, antes que o Rafão realizasse a sua. O Rafão vocês conhecem: era o repelente de mulheres da turma. Gente finíssima, ótimo caráter, mas terrível com a mulherada. Entramos e atravessamos o bar até o jardim de inverno, nos fundos. Bar chique. Provavelmente caro. Mas iamos beber todos na conta do Cenoura, com seu novo salário, então...


Na mesa do Cenoura havia alguns de seus colegas de faculdade, colegas de trabalho e ela. A Princesinha. No exato momento que a vimos pela primeira vez parecia que o bar se esvaziara. Perguntei depois ao Rafão e ao Julinho, e os dois tiveram a mesma impressão: era como se o silêncio tomasse conta do ambiente e as luzes se apagassem. Apenas ela existia naquele momento.

O Cenoura parecia imune à magia da beleza da Princesinha. Ah, sim, em momento algum da noite conseguimos decorar o nome dela. De qualquer forma, o Cenoura estava completamente bêbado quando chegamos. Não se deu sequer ao trabalho de apresentar-nos para os demais convidados. Mas e daí? Puxamos mais algumas cadeiras e tentamos, cada uma a seu modo, sentar o mais perto possível da Princesinha.

Por alguma vontade divina, Rafão foi quem sentou ao lado dela. Coube a mim e ao Julinho sentarmos em volta dos dois. Havia nela algo impressionante, pois nunca vi o Julinho tão determinado por uma guria antes. E olha que haviam muitas outras garotas no bar. Algumas até mesmo mandavam sinais para o cara, que simplesmente as ignorava. Tinha olhos apenas para a Princesinha. E ela, estranhamente, era só ouvidos para o Rafão.

Eu estava no meu quarto caneco de cerveja. Naquele bar não se vendiam garrafas. Apenas cerveja artesanal em canecos de meio litro. Se eu estava no quarto caneco, significa que o Rafão já estava, no mínimo, no sétimo. E isso que ele era nosso motorista. Era questão de momentos até o Rafão render-se e ir ao banheiro tirar a água do joelho. E então seria impossível que Rafão continuasse em sua investida na Princesinha. O Julinho estava quieto, apenas aguardando o momento. Eu? Eu já tinha desistido de qualquer investida. A cerveja era realmente forte.

Enquanto isso, eu me divertia com a cena protagonizada pelo Cenoura. Sem o menor pudor, ele e os amigos bêbados cantavam músicas de uma antiga banda dos anos oitenta. Em voz alta. Para o bar todo ouvir. Constangedor, mas nem por isso menos divertido.

Na volta do banheiro, a conversa do Rafão não ia nada bem. Era previsível, pois era o que sempre acontecia. Mas como amigo eu sentia um pouco de pena do cara. E por mais que eu estivesse acostumado com o Rafão, não estava preparado para o que se seguiria.

- Chega cara. Tu não sabe como xavecar uma guria.

Todos na mesa, de repente, estavam atentos à conversa dos dois. Talvez não tenha sido com essas exatas palavras que a Princesinha falou, mas o sentido era esse: não aguentava mais a conversa do meu amigo. O Rafão, sem a menor inibição por causa das cervejas, não iria admitir ser derrotado naqueles termos.

- Ah é? E o que tu sabe sobre isso? Vai dizer que tu já ficou com mais garotas que eu?

Um ar triunfal tomou conta do Rafão. A sensação era a de assistir uma criança reivindicar vitória numa discussão com um adulto. A Princesinha não se abalou e respondeu, com a voz doce e sonora, para todos ouvirem.

- POSSIVELMENTE.

Todos riam. Riam alto. Rafão ficou calado. Reconheceu a derrota e esperou o momento passar, como passaram todos os outros anteriormente. Foi então, do outro aldo da mesa, que por trás dos canecos de cerveja vazios o Cenoura pediu a palavra.

- Um minuto de silêncio por favor. A moral do Rafão acabou de falecer.

As risadas ainda ecoavam quando percebi que teria que voltar para casa de táxi.
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