Muito importante para todos os que lerem as postagens: por vezes estarei falando sério, postando opiniões próprias. Outras vezes estarei brincando com opiniões que poderiam ser minhas, mas não são. E por vezes postarei material totalmente fictício, frutos da imaginação e talvez um pouco influenciados pelas experiências acumuladas ao longo dos anos.
Distinguir o que é realidade e o que é ficção fica a cargo de cada um.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Honesto e os homens baixos

Não muito longe daqui, existe uma terra muito parecida com a nossa. Uma terra fértil, onde plantando tudo dá, rica em minérios, recursos naturais, sem desastres... Um lugar excelente. Um país gigante.

Gigante mesmo. Dizem os nativos que seu povo demonstra, em sua altura, as suas virtudes. Grandes pessoas são, portanto, pessoas grandes! Ao longo da vida, as pessoas de destacadas qualidades tendem a crescer além do comum e de forma extraordinária. Quanto mais alta a pessoa, maior seu virtuosismo ético e moral. Existem em meio à população pessoas – homens e mulheres – com alturas que, para seres humanos comuns, são inimagináveis. Três, quatro, cinco metros de altura. São minoria, evidentemente, mas existem em quantidade maior do que se poderia supor. Reza a lenda que, no passado, existiram homens com mais de uma centena de metros de altura. Mas esses, infelizmente, são agora história.

Honesto nasceu nessa terra mágica. Seus pais, orgulhosos do caráter de seu filho, o batizaram com o mais adequado nome possível. Honesto sempre foi um bom menino, educado, prestativo, estudioso. Com apenas dois anos de idade, já tinha um metro e meio de altura. Aos oito, tinha a mesma altura de seu pai, alguém consideravelmente acima do padrão dos homens médios.

Ao atingir a puberdade, Honesto viu sua vida mudar. Em meio ao rápido crescimento típico dos adolescentes, surgiu um novo gigante. Aos dezoito anos, Honesto atingiu a marca dos vinte metros de altura! Virou manchete nacional: havia mais de cinqüenta anos não aparecia alguém tão alto. E Honesto não parava de crescer.


Deixara a juventude para trás, mas não a bondade. Era um homem bom, íntegro, generoso, correto. E, como seu nome fazia supor, honesto. Suas preocupações com as injustiças sociais o levaram à vida política. Era a pessoa que todos desejavam ver na vida pública. Um novo sopro de esperança percorreu a população, amargurada com a degeneração dos políticos que a anos revezavam-se no poder. Resolveu, então, candidatar-se.

A campanha de Honesto era vigorosa, com forte participação popular. “A política precisa de grandes homens” era seu slogan de campanha. E não eram apenas os gigantes que demonstravam seu apoio. Homens médios, a grande maioria da população, não tinham dúvida em dar-lhe seus votos sempre que levantavam a cabeça para enxergar o verdadeiro gigante, o maior de todos os homens vivos.

Mas havia opositores. Os velhos homens da política viam em Honesto, o Gigante da Esperança, um perigo aos seus conluios sórdidos. Estes homens, após anos na vida política, deturparam a tal ponto sua ética que apresentavam em seus físicos a marca de sua corrupção. Eram invariavelmente todos baixos. Anões. Alguns mais pareciam mais ratos que homens. Mas a população desconhecia essa faceta, pois escondidos em seus castelos, apareciam somente em campanhas gratuitas de televisão, onde disfarçavam sua pequenez.

Os ratos da política foram até o Tribunal Eleitoral impugnar a campanha de Honesto. Diziam que sua altura, demasiada, era uma afronta a uma campanha eleitoral justa e equânime, pois teria o Gigante um favorecimento desleal sobre os demais. O colegiado de julgadores recebeu a denúncia e até o julgamento Honesto ficaria proibido de fazer campanha a céu aberto. Somente poderia apresentar-se na televisão, com a mesma altura de seus concorrentes...

Honesto, respeitador da ordem e da legalidade, apesar de contrariado, acatou a decisão. A população, então, revoltou-se. A pressão popular foi tanta que especialistas dizem que a estatura média da população aumentou em cinquenta centímetros em questão de apenas alguns dias. A denúncia foi retirada.

Os baixos homens-baixos seguiam arquitetando meios de acabar com a candidatura de Honesto. Mas sua vitória nas urnas já estava selada. Toda uma nação consagrou aquele homem, aquele Gigante, como alguém capaz de limpar a política e lhe devolver a devida estatura. Sonhavam com seus grandes governantes de outrora. E Honesto estava feliz em poder fazer de tudo ao seu alcance para devolver à política de sua terra a grandeza que ela merecia.

Foi até a capital federal. Mas foi derrubado por seus inimigos baixos, anões e ratos. No centro de seu país, Honesto era como Gulliver em Lilliput. Honesto nunca pode fazer nada. Era tão grande que não podia entrar no Palácio dos Poderes. Suas escolhas eram simples: abdicar ou encolher. Honesto, O Gigante da Esperança, nunca pode tomar posse.

No Palácio dos Poderes somente homens baixos entram.

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