Muito importante para todos os que lerem as postagens: por vezes estarei falando sério, postando opiniões próprias. Outras vezes estarei brincando com opiniões que poderiam ser minhas, mas não são. E por vezes postarei material totalmente fictício, frutos da imaginação e talvez um pouco influenciados pelas experiências acumuladas ao longo dos anos.
Distinguir o que é realidade e o que é ficção fica a cargo de cada um.

sábado, 5 de março de 2011

Outros Carnavais

Carnaval nunca foi a minha. Samba, axé, pagode, música brazileira, jamais foram da minha preferência. Não entendo como pode milhões de pessoas perderem seu tempo vendo gente semi-nua atravessando uma avenida de ponta a ponta em fantasias e festejando uma data que em nada remonta à origem das festividades. Afinal, Carnaval era uma festa cristã para marcar o início da quaresma. Mas ao que tudo indica, nem os padres lembram mais disso...

Enfim, Carnaval nunca foi minha praia. Mas houve um tempo em que a noite de sexta-feira, do grito de Carnaval, era de uma ansiedade. Em nossa juventude, meus amigos – não preciso dizer quem – e eu encarávamos os Bailes de Carnaval como noites mágicas. Eram Bailes como nos tempos de nossos pais, com banda, marchinhas, muita diversão. Honestamente, íamos porque queríamos a nossa chance com as gurias. Mas isso não explica a emoção que tomava conta de nós. Nós curtíamos aqueles bailes com uma solenidade espantosa.

Eu poderia dizer muitas e muitas coisas contra o Carnaval. Sobre como os axés e créus da vida estragaram uma festa que, de tão divertida, cativou até mesmo um crítico odioso como eu. Eu podia dizer que a sexualização do Carnaval, com jovens buscando apenas desculpas para extravasar os hormônios reprimidos, vulgarizou ainda mais o evento. Eu poderia perguntar como é que aguentam música ruim tanto tempo?

Mas de nada adianta. Eu lembro de meus bailes de Carnaval com muito carinho. Pelos momentos com os amigos, pela leveza no coração de um momento sem preocupações e sem culpas. E especialmente porque foi nos bailes da SABA que conheci a mulher que amo. Foi no distante baile de Carnaval da SABA de 1996 que pela primeira vez encontrei aquela que hoje é minha esposa e mãe do meu filho.

Enfim, pelos bons momentos de melancolia, apenas tenho a agradecer ao e-mail que meu amigo Lucas enviou para meu outro amigo Luís Otávio e para mim. Aproveitem.


Cara, acordei hoje meio melancólico e resolvi te mandar este e-mail. Acho que tu és a única pessoa no mundo que pode me entender.

Talvez tu não tenhas te dado conta, mas se estivéssemos em 1996, hoje seria o dia mais importante do ano. A esperada noite do grito de carnaval, a primeira noite da SABA.

Quinze anos atrás nós estaríamos com ingressos comprados para as quatro noites de baile, camisetas do Bloco dos Fantasmas na mão e completamente enlouquecidos.

Certamente a esta altura a gente já teria brigado com nossos pais que teimavam em não deixar que voltássemos às 7h da manhã para casa. E isso que era tão perto, apenas algumas quadras de distância.

Eu sairia de casa hoje umas 10h da noite, passaria na tua casa pra te encontrar (devidamente fardados de Fantasmas), iríamos até o fliperama e esperaríamos o Pedrão se arrumar jogando uma fichinha de D&D por 50 centavos. Depois iríamos até o Bar do Tato na concentração do bloco, onde a gente encontrava o resto do pessoal e enchia a cara de caipirinha ruim com cachaça barata.

Depois seriam quatro noites rodando no salão ao som da Super Banda Impacto, pegando umas feiosas, tomando fora das bonitas e tendo histórias pra contar.

A terça-feira seria o dia mais triste do mundo, mas também teríamos a sensação de missão cumprida e de ter aproveitado. A única coisa a fazer era esperar o próximo ano.

A SABA durou tão pouco. Fomos nos carnavais de 94 a 97 inteiramente na SABA. Em 98 já começou aquela palhaçada do Ibiza que matou a SABA e os carnavais de salão do litoral. Queria ter nascido antes pra ter aproveitado mais. Invejo meus primos mais velhos que me contam dos gloriosos carnavais da década de 80 e começo de 90 na SABA, onde as concentrações dos blocos eram nas casas das pessoas, a duas quadras de distância. Algo que parou no tempo.

Com a SABA morreram os bons tempos que nunca irão voltar. A simplicidade de ir a pé por três quadras até o clube para o baile. De ter música ao vivo (sem caixas de som) com marchinhas de carnaval. De ser feliz simplesmente por ficar rodando no salão. De morrer de medo do segurança com cara de malvado. De ficar o verão todo de olho em uma gata e depois tentar ficar com ela no pátio da SABA. De fugir das brigas dos abobados do jiu-jitsu. De ir embora a pé com o sol na cara completamente esgualepado. De dormir o dia todo esperando somente a próxima noite e acordar sabendo que ainda tinham mais três. Nesta hora a gente pensava que somente uma noite seria o suficiente...

Tenho certeza que nos confins do nosso interior gaúcho muitas pequenas cidades ainda preservam esta antiga tradição. Ainda existe em algum lugar o velho carnaval de salão. Talvez até exista a Super Banca Impacto. Nestes lugares as pessoas não foram burras a ponto de terminar com tudo isso. Nós sentimos a falta das coisas que perdemos, mas mais triste ainda é sentirmos a dor da falta das coisas que abandonamos.

Tudo o que temos que decidir é saber o que fazer com o tempo que nos é dado.”

8 comentários:

  1. Galera ficou debatendo via email.
    Mas eu achei muito bom.
    Sempre que escreveres algo e estiveres a disposição de compartilhar, tens espaço garantido.
    Abração!

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  2. Ah, e teve gente que curtiu o texto via facebook...

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  3. Eu curti pra caraco! Tempos que se foram, mas ainda é nítido na minha memória qd a gente ia comer aquela pizza no Pizza Truck! :)

    Não conhecia o "brog", mto bala, grande abraço, Pedrão.

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  4. Curtir por facebook? Comé qui é malandro?

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  5. Não gosta de mulher seminua na avenida, Pedrão?

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  6. Eu preciso gostar de samba e de carnaval pra gostar de mulher nua ou semi-nua?
    Requisito estranho esse....
    E o ponto é: o Carnaval é apenas mulher nua na avenida?

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  7. Oi Pedro!!! Adorei...tu sabe que essa é também a minha história...e depois dizem que amor de praia não sobe a serra...
    Também adorei o dragão-de-quatro-cabeças e a d. Artêmia! Bjs Bê.

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