Muito importante para todos os que lerem as postagens: por vezes estarei falando sério, postando opiniões próprias. Outras vezes estarei brincando com opiniões que poderiam ser minhas, mas não são. E por vezes postarei material totalmente fictício, frutos da imaginação e talvez um pouco influenciados pelas experiências acumuladas ao longo dos anos.
Distinguir o que é realidade e o que é ficção fica a cargo de cada um.

domingo, 4 de setembro de 2011

Guerra dos Sexos


 Liberdade sexual. Essa foi a verdadeira revolução da segunda metade do século XX. Foi a partir da mudança de dogmas quanto à sexualidade humana que homens e mulheres – sobretudo as mulheres – passaram a ter o comportamento que diferencia a sociedade atual daquela de apenas cinquenta anos atrás.

Isso, todavia, não evitou que a namorada de Jáder, Rafaela, continuasse presa a alguns pudores.

Jáder a Rafaela estavam namorando há cinco anos, já. Sempre foram cuidadosos – jamais tiveram outros parceiros depois do início de seu relacionamento e usavam sempre camisinha. Mas com o tempo, Jáder começou a cansar.


É que existe algo que em algum momento do relacionamento atinge todo homem. Se o casal está firme e forte, é natural que o cara queira deixar de lado a camisinha. Não adianta, Pode ser importante para a segurança, mas o sexo é muito melhor e mais prazeroso “ao natural”.

Porém Rafaela era convicta: sexo, só com camisinha.

- Tu não tomas pílula? Qual o problema, então? Tanto tempo juntos eu acho que podíamos avançar no relacionamento. Sexo sem camisinha é mais gostoso. E mais: será que tu não confias em mim?

- Não tem nada a ver com pílula ou confiança ou qualquer outra coisa. É uma questão de escolha. É o meu corpo, minha escolha. Sexo, comigo, só de camisinha.

- Então tá. - Antes que Rafaela pudesse saborear o momento, Jáder emendou – Mas só que hoje és tu quem vai comprar as camisinhas.

Rafaela gelou. Não adiantava. Por mais segura e confiante fosse Rafaela, bastava pensa em passar no caixa da farmácia com um pacote de camisinhas e já ficava sem jeito. Era ridículo, ela sabia, mas não conseguia evitar. Em algum lugar dentro dela ela ainda estava presa a antigos preconceitos...

E Jáder sabia disso. Porra, não adianta nadar de pala, ainda é ele quem tinha que comprar sempre? Hoje era o dia de Rafaela, finalmente, fazer sua revolução...

Na esquina do prédio de Rafaela tinha uma farmácia. Dessas que ficam vinte e quatro horas aberta. Ela bem que tentou passar reto e ir em outra, em que os caixas não a reconheceriam, mas Jáder fez questão de comprar ali mesmo.

- Não dá. Não vou conseguir...

- Como assim? A gente conversou que tu ias comprar,,, Tu que exiges a camisinha, mesmo a gente estando juntos há mais de cinco anos.

- Eu sei disso, mas eu não consigo. Fico envergonhada. Olhá lá, tá cheio de gente. Eu sei que é besteira, mas não consigo. Vai lá, amor. Vai...

Jáder foi. Sexo com camisinha ainda é melhor que nenhum sexo.

No interior da farmácia, o atendente, atrás do balcão, reconheceu Jáder.

- Olá. Em que posso ajudá-lo?

- Onde ficam as camisinhas? - Jáder perguntou em voz alta, sem conseguir esconder o riso. Todas as cinco pessoas no recinto fizeram força para não olhar.

- Eu lhe mostro, por aqui.

O atendente levou Jáder até a prateleira, quase ao lado da porta de entrada da farmácia, onde Rafaela esperava do lado de fora.

- Amor – Jáder gritou chamando sua namorada – compro quantas? Dez dá para todo o fim de semana ou tu achas pouco?

Rafaela corou. Sentia os olhares de todos os presentes sobre si. Com o rosto quente e bochechas vermelhas, cerrou os dentes e gesticulou para que seu namorado falasse mais baixo. De nada adiantou.

- Olha só, querida, tem umas com sabor de morango. Que tu achas? Ou tu preferes sabor de uva? Diz aí, porque é tu quem vais provar mesmo...

O casal de idosos que comprava remédios abandonou as caixas no balcão de atendimento e, horrorizados, saíram com os cenhos franzidos. Rafaela tentava disfarçar, escondendo-se atrás de um orelhão fora de uso na calçada.

- Psiu, Lela, vem cá, preciso da tua ajuda. Tu estás naqueles dias? É que eu achei KY em promoção. Levo um tubo ou dois?

Foi a gota d'água. Rafaela, furiosa, esqueceu a vergonha e entrou pisando firme no chão de piso frio da farmácia. Pegou com força no punho de Jáder e o arrastou para fora da farmácia, na direção de volta do seu prédio. Com a face em chamas e a voz ríspida, falou, com os olhos fixos em frente e sem olhar para o lado:

- Vamos para casa. Já estamos prontos para avançar no nosso relacionamento.

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