Liberdade sexual. Essa foi a verdadeira revolução da segunda metade do século XX. Foi a partir da mudança de dogmas quanto à sexualidade humana que homens e mulheres – sobretudo as mulheres – passaram a ter o comportamento que diferencia a sociedade atual daquela de apenas cinquenta anos atrás.
Isso, todavia, não evitou que a namorada de Jáder, Rafaela, continuasse presa a alguns pudores.
Jáder a Rafaela estavam namorando há cinco anos, já. Sempre foram cuidadosos – jamais tiveram outros parceiros depois do início de seu relacionamento e usavam sempre camisinha. Mas com o tempo, Jáder começou a cansar.
É que existe algo que em algum momento do relacionamento atinge todo homem. Se o casal está firme e forte, é natural que o cara queira deixar de lado a camisinha. Não adianta, Pode ser importante para a segurança, mas o sexo é muito melhor e mais prazeroso “ao natural”.
Porém Rafaela era convicta: sexo, só com camisinha.
- Tu não tomas pílula? Qual o problema, então? Tanto tempo juntos eu acho que podíamos avançar no relacionamento. Sexo sem camisinha é mais gostoso. E mais: será que tu não confias em mim?
- Não tem nada a ver com pílula ou confiança ou qualquer outra coisa. É uma questão de escolha. É o meu corpo, minha escolha. Sexo, comigo, só de camisinha.
- Então tá. - Antes que Rafaela pudesse saborear o momento, Jáder emendou – Mas só que hoje és tu quem vai comprar as camisinhas.
Rafaela gelou. Não adiantava. Por mais segura e confiante fosse Rafaela, bastava pensa em passar no caixa da farmácia com um pacote de camisinhas e já ficava sem jeito. Era ridículo, ela sabia, mas não conseguia evitar. Em algum lugar dentro dela ela ainda estava presa a antigos preconceitos...
E Jáder sabia disso. Porra, não adianta nadar de pala, ainda é ele quem tinha que comprar sempre? Hoje era o dia de Rafaela, finalmente, fazer sua revolução...
Na esquina do prédio de Rafaela tinha uma farmácia. Dessas que ficam vinte e quatro horas aberta. Ela bem que tentou passar reto e ir em outra, em que os caixas não a reconheceriam, mas Jáder fez questão de comprar ali mesmo.
- Não dá. Não vou conseguir...
- Como assim? A gente conversou que tu ias comprar,,, Tu que exiges a camisinha, mesmo a gente estando juntos há mais de cinco anos.
- Eu sei disso, mas eu não consigo. Fico envergonhada. Olhá lá, tá cheio de gente. Eu sei que é besteira, mas não consigo. Vai lá, amor. Vai...
Jáder foi. Sexo com camisinha ainda é melhor que nenhum sexo.
No interior da farmácia, o atendente, atrás do balcão, reconheceu Jáder.
- Olá. Em que posso ajudá-lo?
- Onde ficam as camisinhas? - Jáder perguntou em voz alta, sem conseguir esconder o riso. Todas as cinco pessoas no recinto fizeram força para não olhar.
- Eu lhe mostro, por aqui.
O atendente levou Jáder até a prateleira, quase ao lado da porta de entrada da farmácia, onde Rafaela esperava do lado de fora.
- Amor – Jáder gritou chamando sua namorada – compro quantas? Dez dá para todo o fim de semana ou tu achas pouco?
Rafaela corou. Sentia os olhares de todos os presentes sobre si. Com o rosto quente e bochechas vermelhas, cerrou os dentes e gesticulou para que seu namorado falasse mais baixo. De nada adiantou.
- Olha só, querida, tem umas com sabor de morango. Que tu achas? Ou tu preferes sabor de uva? Diz aí, porque é tu quem vais provar mesmo...
O casal de idosos que comprava remédios abandonou as caixas no balcão de atendimento e, horrorizados, saíram com os cenhos franzidos. Rafaela tentava disfarçar, escondendo-se atrás de um orelhão fora de uso na calçada.
- Psiu, Lela, vem cá, preciso da tua ajuda. Tu estás naqueles dias? É que eu achei KY em promoção. Levo um tubo ou dois?
Foi a gota d'água. Rafaela, furiosa, esqueceu a vergonha e entrou pisando firme no chão de piso frio da farmácia. Pegou com força no punho de Jáder e o arrastou para fora da farmácia, na direção de volta do seu prédio. Com a face em chamas e a voz ríspida, falou, com os olhos fixos em frente e sem olhar para o lado:
- Vamos para casa. Já estamos prontos para avançar no nosso relacionamento.
Inspirado em personagens reais!
ResponderExcluirHahahahah! Hilário! Muito bom!
ResponderExcluirEntão espraia o causo, chê!!!
ResponderExcluirAbração e, como sempre, valeu pela audiência!