Muito importante para todos os que lerem as postagens: por vezes estarei falando sério, postando opiniões próprias. Outras vezes estarei brincando com opiniões que poderiam ser minhas, mas não são. E por vezes postarei material totalmente fictício, frutos da imaginação e talvez um pouco influenciados pelas experiências acumuladas ao longo dos anos.
Distinguir o que é realidade e o que é ficção fica a cargo de cada um.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Gauchos das Sombras - Cap. 1: Recrutamento

Getúlio acordou com o sol escaldante queimando seu rosto. Na noite anterior cometera o erro de deixar as persianas bloqueadoras entreabertas. Com a destruição da camada de ozônio abaixo do Trópico de Capricórnio, a exposição ao sol era um perigo desnecessário que não precisava correr. Passou uma pomada restauradora a base de células epiteliais sintéticas que encontrara para vender em um fórum ilegal na Internet. A queimadura foi minimizada e as células danificadas pelos raios ultravioletas foram substituídas. Uma maravilha. Tecnologia japonesa.

Sentou na cama e procurou a injeção de morfina que mantinha na cabeceira. A dor da queimadura era muito forte, mas o ferimento a bala que sofrera na noite anterior doía ainda mais. Desde que o Novo Exército Farrapo levantou o Estado Gaúcho do Rio Grande do Sul contra o Império Democrático Pan-Brasileiro, a escalada da violência aumentou em demasia. Os nortistas, como eram chamados os brasileiros, que ainda residiam no novo Rio Grande do Sul quando do fim da guerra organizaram milícias armadas em defesa do Pan-Brasil. Não aceitavam que o povo do sul desejasse apagar seu passado. Em retaliação, o gabinete presidencial da nova república ordenara a prisão de todos os estrangeiros, para identificação e interrogatório.

O ferimento estava sob controle, mas ainda doía. As milícias nortistas, abastecidas com armas contrabandeadas por agentes secretos da Polícia Ideológica Pan-Brasileira pela fronteira com o que antes era o leste do Paraná, usavam munição de segunda linha, o que ao menos tornava a situação mais suportável. Getúlio levantou, evitando que os raios de sol que insistiam em entrar no quarto lhe atingissem a pele e causassem novas queimaduras. Acionou o controle manual e fechou completamente a janela com as persianas bloqueadoras. Tinha ainda três horas para dormir e descansar antes que começasse seu turno no emprego.

Quando finalmente acordou, Getúlio pode perceber que não estava sozinho no quarto. Antes que pudesse alcançar o revólver Cambará 38 de dez tiros que guardara de seu período como Soldado Farrapo, fora dissuadido de tentar qualquer movimento brusco por uma sedutora voz feminina. Somente então percebeu que não estava sendo assaltado. Estava sendo recrutado. Não sabia ainda por quem.

Soube apenas que o imobilizador muscular usado doía ainda mais que um tiro ou uma queimadura por raios ultravioletas.



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