Era sábado de verão. Como de praxe, estavamos todos na praia. A nossa turma era capaz de passar o ano inteiro sem se encontrar, cada um envolvido com suas aulas, trabalhos, etc. Apesar de vivermos todos na capital, era no litoral que encontravamos a nossa identidade. Quando chegava janeiro era sagrado: todos os fins de semana, um por um, iamos para nossas casas na praia e lá nos reuniamos para fazer o que todos os guris de 15 a 20 anos fazem. Festa.
Evidente que o objetivo eram as gurias. Alguns, como o Julinho e o Ricardo, faziam as garotas comerem nas suas mãos. Era impressionante. Não tinha noite que eles não se dessem bem. Há quem diga – eu nunca via, mas dizem com tanta convicção que pode até ser verdade – que o Julio certa vez sai agarrado com duas amigas simplesmente porque não conseguia decidir qual das duas era a mais bonita.
Já outros, como o Cenoura e eu, ralávamos para ter uma chance com as gurias. Não eramos de todo ruim, mas conseguir mostrar para aquela guria no balcão do bar ou na pista de dança que eramos o cara ideal era sempre uma tarefa estafante. Recompensadora, óvio, mas cansativa. E mesmo assim acumulamos – pelo menos eu acumulei! – alguns fracassos...
Agora, igual ao Rafão... O cara simplesmente não podia chegar perto de mulher alguma que na mesma hora fazia algo que as espantava. Incrível. Era involuntário, e na maioria das vezes nem nós sabiamos o que tinha acontecido, mas as gurias não suportavam ficar perto do cara. Desde que se mudou para o exterior, não tive mais notícas dele, mas dizem que continua sozinho.
Nem por isso deixamos de sair todos juntos naquele sábado de verão. O calor que tinha feito fez com que todas as garotas fossem à praia durante o dia para tomar banho de sol. Por consequencia, lá estavamos nós, na areia, cobertos de protetor solar, admirando corpos delicados em biquinis minusculos entre uma cerveja e outra. E claro, desperdiçando energia preciosa para a noite. E por mais incrivel que pareça, a praia, com todo o sol e areia e mar parece ter-nos feito bem.
Noite de sabádo. O Rafão, unico de nós que na época possuia carteira de motorista (impressionante que mesmo assim o cara não era capaz de se dar bem) passou na casa de um por um e, apertados no Corsinha, fomos pra noite. Não existia balada naquele tempo. Nós faziamos noite. Bar, boate, danceteria, tudo era noite.
Estacionamos na avenida. Lotada. Dos dois lados, uma multidão congestionava as precarias calçadas em filas para entrar nas casa noturnas mais famosas. E foi então que algo desconcertante aconteceu.
Estavamos em três – o Julinho e o Ricardo já tinham atravessado a rua para trovar duas loirinhas que estavam na bilheteria. Não consigo entender como, mas em questão de segundos já estavam abraçados nas princesinhas e entrando na festa. Sobramos o Cenoura, eu e o Rafão. Na hora pensei “fudeu”. Noite com o Rafão é divertidissima, muito trago e risada. Mas secura total. Foi o Cenoura quem chamou o Rafão pela primeira vez de repelente de mulheres.
Enfim. Estavamos atravessando o canteiro central da avenida e um grupo de quatro gurias muito bonitas – nem de longe tão lindas quanto as loiras do Julio e do Ricardo, mas ainda assim muito bonitas – vinha no sentido contrario. Uma loira (falsa, mas quem se importa?), duas morenas e uma ruiva (também de farmácia, mas e daí?). O Cenoura na hora me deu um cotovelaço nas costelas. A gente não podia perder a chance. Estavam todas sorridentes, abertas pro jogo. E então aconteceu.
- E ai, gurias? Pra onde vamos hoje a noite?
Pronto. O Rafão puxou conversa. Em segundos a mágica iria acontecer e quatro garotas iriam sumir.
- Nós vamos ali, no Underground. Tem show de rock. Nossa amiga tem uma band. Vocês não querem ir junto?
Impressionante. A morena mais baixa, que por sinal era tambpem a mais gata das quatro, parou pra conversar com o Rafão. Eu não conseguia entender, mas já estava entusiamado. O Cenoura, vendo minha surpresa com a situação, na mesma hora pulou para o lado Rafão, como um wingman. E antes que ele pudesse dizer algo, o Rafão emendou:
- Claro. Nós todos curitmos rock’n’roll. Vamos lá. Eu sou Rafael, a propósito.
Cara, incrivel. Ele falava com uma naturalidade de quem domina o sexo feminino. Naquele instante estavamos todos dando três beijinhos e trocando nossos nomes. E, ao natural, sairam as gurias a caminhar lado a lado com o Rafáo, em direção à noite. Coube ao Cenoura e a mim ir atras, esperando as sobras.
Entramos sem pagar nada. O Rafão conseguiu que a tal “amiga que tem uma banda” nos desse ingressos cortesia. E, magicamente, estavamos todos na area VIP com quatro gurias – desculpem-me o termo – deliciosas. Bom, talvez não fossem tão deliciosas assim, mas a tiriça era tanta que... bem, deu pra entender.
Lá dentro, era cada um por si. O Cenoura se engraçou com a ruivinha. O Rafão estava trovando magistralmente a moreninha mais gatinha. Eu? Bom, eu fiquei travado naquele papo furado com as outras duas amigas. E por mais que elas estivessem para o jogo, todos nós sabemos o que acontece quando duas amigas ficam sozinhas na noite com um cara. Absolutamente nada. A menos, claro, que eu seja o Julinho...
Ao menos eu estava na area VIP. E pude ver, de forma privilegiada, o Rafão exorcizar o demônio da falta de jeito com as mulheres.
O bar do mesanino VIP era daqueles metidos a bacana. Varios tragos diferentes nas prateleiras. Varias cervejas importadas a venda, sempre por um preço estupidamente caro. Mas o Raão não tava nem aí. A moreninha estava sentada no banco alto, junto ao bar, e o Rafão em pé ao seu lado, apoiado no balcão pelo cotovelo, numa pose tri canastrona.
- Nossa, tu já bebeste esta cerveja? É uma cerveja escura, tri gostosa. Eu só bebia essa quando fui pra Itália.
A moreninha abriu a guarda. Tava no papo. O Rafão só precisava fazer o que ele vinha fazendo a noite toda: evitar ser o o Rafão.
- Cerveja escura? Deve ser deliciosa. Eu adoro as morenas.
Ele terminou a frase com um sorriso sério, olhando nos olhos castanhos da morena. Incrível. O cara dominou a guria totalmente. Ela passou a lingua nos lábios, suavemente, pegou a mão dele e os dois passaram por mim em direção à sacada da área VIP, aberta, com vista para o céu noturno.
“Puta que pariu”, pensei. “O cara vai se dar bem.” Fui no bar, comprei a tal cerveja escura e fui pra perto da sacada, pra conferir o passo final daquela dança muitissimo bem conduzida pelo Rafão. E a ceva até que era boa, mesmo sendo cara.
Como eu disse antes, era como se o Rafão tivesse o dominio sobre a moreninha. Ela flutuava nas pontas dos pés, embebecida com a lábia do meu amigo. Rafão, puro instinto, fazia tudo certo. Mãos na cinturinha fina a puchar o corpo macio e delicado contra o seu. Com a mão direita levantou o queixo para que pudesse olhar bem aquela boca vermelha antes do derradeiro beijo. E ela, maravilhada, esperando a mágica daquela noite se completar, disse, num sussuro:
- Que linda a lua, não?
Com a resposta, a morenhinha imediatamente tirou as mãos do Rafão de sua cintura e foi embora, sem olhar para trás. No último instante, tudo voltou ao normal.
- ÃH? – o som gutural feito pelo Rafão, aliado pela cara de susto e incompreensão dizia tudo: ele não sabia mais o que estava fazendo.
- Nada, esquece – ela ainda disse, com o rosto que mostrava puro desprezo.
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Sensacional! Quem é amigo vai ler e achar DEMAIS! Não tem como não!
ResponderExcluirParabéns!
Âh? Essa história é a melhor!
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