Muito importante para todos os que lerem as postagens: por vezes estarei falando sério, postando opiniões próprias. Outras vezes estarei brincando com opiniões que poderiam ser minhas, mas não são. E por vezes postarei material totalmente fictício, frutos da imaginação e talvez um pouco influenciados pelas experiências acumuladas ao longo dos anos.
Distinguir o que é realidade e o que é ficção fica a cargo de cada um.

sábado, 19 de novembro de 2011

O Fator Panda

Seja você um evolucionista-darwiniano ou um criacionista religioso, é inegável que o  ser humano, sob todas as óticas, é um prodígio. Afinal, em um ambiente rico e diversamente variado, o homem – aqui usando-se o termo como espécie humana, sem sexismos – é o ser vivo com o maior sucesso dentre todos. Não por acaso se anunciou, recentemente, o nascimento do humano número 7 bilhões aqui no Rio Grande do Sul (ou assim falou a Zero Hora...).

Na verdade, o sucesso da raça humana impressiona. Afinal, como se poderia imaginar que uma raça que produz filhotes absolutamente inúteis poderia perseverar a ponto de dominar o planeta? Não se engane o leitor: bebês humanos são a expressão da inutilidade.

Pense bem: um bebê, após nascer com vida, torna-se dependente de sua mãe – e do grupo familiar, que precisa proteger e dar suporte à mãe – para tudo, especialmente para alimentar-se. Isso sem adentrar no mérito de que nos primeiros MESES – não semanas, não dias, mas meses – de vida, a criança dependerá exclusivamente do leite materno. Somente após conseguirá alimentar-se de outros alimentos sólidos – e ainda assim sem desmamar completamente. Em tempos atuais, de internet banda larga e calças de tactel, fica fácil conceber e conviver com a fragilidades de um recém-nascido. Mas imagine a 2 mil anos atrás? Ou a 15 mil anos atrás, quando o homem vivia em cavernas, ainda aprendia a dominar o fogo e fugia de animais de dentes afiados ávidos por carne de, bem, deu pra entender...

Como que o ser humano conseguiu perseverar a ponto de chegar a 7 bilhões de indivíduos quando a simples sobrevivência de uma criança é tão complicada? Como explicar que toda uma estrutura social se formasse ao redor do núcleo familiar apenas para proteger um indivíduo indefeso que passará 9 meses mamando no peito da mãe, demorará um ano para começar a andar e atingirá a maturidade física apenas aos 15 anos? O que fez com que o homem das cavernas – ou mais longe ainda, o elo perdido do homem-primata – não abandonasse a sua cria recém-nascida, tão trabalhosa e, de novo, inútil?

Graças ao Fator Panda.




Faça um experimento social: coloque um agrupamento de meninas em uma excursão ao zoológico e leve-as até em frente da jaula de um urso panda-gigante (Ailuropoda melanoleuca). Imediatamente se ouvirá, em uníssono e em alto volume, um gemido de meiguice infantil: Óóóóóuuunnnnnn.

Pandas são para as mulheres – e alguns indivíduos do sexo masculino também – nos dizeres coloquiais, “fofos e meigos”. É impossível assistir a um documentário sobre as Olimpíadas de Moscou em 1980 sem que, à exibição do ursinho Misha (que não era um panda) chorando no encerramento dos jogos, uma mulher na cozinha não gema “óun”. Essa meiguice e fofurice é, do ponto de vista evolucionário, um triunfo. É ele que garante a preservação do urso-panda gigante enquanto espécie.

Afinal de contas, ursos-panda são, ainda mais que bebês humanos, as criaturas mais inúteis da natureza. Pandas sobrevivem sem nenhum merecimento do ponto de vista evolucionário – a não ser, claro, pelo fator “óun” (no inglês, “awn”). Aos fatos. Os pandas estão em perigo de extinção. Isso é por todos sabido. Mas o que é por muitos ignorado é que estes animais não estão adaptados à sobrevivência – seja no habitat natural, seja em cativeiro. Alguns diriam até que não merecem viver...

Pandas são onívoros, apesar de manterem uma dieta quase que exclsivamente a base de brotos de bambu. Ainda assim, sua dentição e aparelho digestivo evoluíram para uma dieta carnívora. Significa dizer que um animal com uma média de 100 quilos e um sistema digestivo ineficiente para acumular biomassa através de uma dieta vegetariana é um fracasso evolutivo.

Para piorar, os pandas não são chegados na couve. Digo, em sexo. Ainda que se venha dizer que enquanto animais eles não possuem desejo sexual voltado para o prazer, apenas reprodução, os pandas são novamente um fracasso quando o assunto é sexo. A estimativa de vida de um panda gigante, na natureza, é de quinze anos. Em cativeiro chegam a viver até os 20 anos – com exemplares que viveram até os 34 anos. Mesmo assim, a maturidade sexual de uma panda fêmea ocorre apenas após sete anos de vida. Levando-se em consideração que as fêmeas possuem um único cio por ano (na primavera chinesa), com sorte a fêmea terá cinco cios durante sua vida. Isso sem contar que a cada cio a fêmea libera um, por vezes dois, óvulo.

Enquanto de um lado as fêmeas não colaboram muito – pois o cio dura dez dias em todo um ano e o pico fértil se dá do quarto ao sétimo dias – de outro os machos completam a vergonha da espécie. Os machos ostentam a vexatória característica de possuírem pênis pequenos, mas tão pequenos, que dificultam até mesmo a penetração e a consumação do coito. Não basta ter poucas oportunidades, é preciso errar o alvo também... Mas isso não é nada. O panda é um inútil na arte da sedução. Na natureza, o urso-panda macho tende a ser agressivo demais, a ponto de machucar a fêmea com suas presas e garras (achou que seria com o quê?), o que faz com a fêmea desista da cópula – e por vezes até mesmo do cio. Já em cativeiro, é o oposto: de tão tímidos, os animais criados em cativeiro apresentam um falta de interesse sexual que ainda hoje intriga cientistas.

Não a toa nunca se ouviu a expressão “transar como um panda-gigante”.

Se o bom o Deus – porque nem Darwin conseguiria ajudar os pandas nesse assunto – ajudar e um casal de pandas-gigante conseguir engravidar, a fêmea terá uma gestação de três a seis meses. A prole – um ou dois filhotes – não influencia em nada: apenas um filhote será criado pela mãe. O outro, quando houver, será abandonado para a morte. O filhote irá desmamar apenas com um ano de idade e o intervalo entre ninhadas é de, no mínimo, dois anos.

Recapitulando: ursos-panda vivem somente nas florestas da China, ou em cativeiro cuidadosamente controlado e monitorado. Sua alimentação, 99% de bambu, não corresponde à sua dentição ou à adaptação de seu aparelho digestivo, o que leva ao consumo de até 40 quilos de bambu em quatorze horas. Pandas consomem bambu mais rápido que as florestas conseguem se recuperar (o que significa dizer que fossem sexualmente prodigiosos, morreriam de fome). Durante a vida, os pandas possuem um período fértil reduzido, um cio diminuto, uma inaptidão ao sexo e uma prole incapaz de recuperar a população. É evidente que a natureza está tentando se livrar do estorvo que é este animal inútil.

Mas como explicar que os pandas-gigante ainda existam? Porque, em um salto evolucionário, desenvolveram a capacidade de mobilizar os humanos que, ante os gemidos “óóóóuuunnn” de mulheres e crianças (e ao World Wildlife Fund) lutam por sua sobrevivência. São os homens – de novo, como raça, e não gênero sexual – quem mantém os pandas-gigante longe de seu destino natural, a extinção. Pandas atingem um componente misterioso da psique humana, que faz com que homens e mulheres olhem os olhos grandes, as bochechas fofas e o corpo gordo e pensem: eles tem de viver. Graças aos esforços dos seres humanos (os pandas não ajudam muito), a população de pandas-gigante – em cativeiro e na natureza – teve um leve aumento nos últimos anos. O Fator Panda – ou o encantamento que causam nas humanas (óun) garantiu a sobrevivência da espécie.

Da mesma forma, os bebês humanos evoluíram para serem fofos e meigos. Sem poder fugir do perigo ou alimentar-se sozinho, ao nenê lhe sobrou uma única alternativa no processo de evolução. Não por acaso nos encantamos com os olhos desproporcionalmente grandes dos nenês, ou com as bochechas redondas, ou com a gordura localizada nas mãos e pés. Não por acaso toda mãe – e pai – ao olhar o próprio filho exclama “óun”. Nossa salvação, nosso trunfo de sobrevivência, quando recém-nascidos e quiçá como espécie dominante, é sermos fofos e meigos ao nascer.

Somos todos 7 bilhões de pandas.

3 comentários:

  1. Boa! Fator panda seria igual ao instinto materno? Ou seria uma mistura de instinto materno com a dificuldade que homem tem de mudar? Medo de mudança refletido na tentativa de manter uma espécie inútil ainda viva.
    Ou não é medo de mudança e sim sentimento de culpa por ter exterminado tantas outras?
    De qualquer maneira valeu ter assistido o documentário sobre pandas eim??? hehehehe

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  2. Cara, instinto materno é um traço evolutivo. E a meiguice dos nenês também é fruto da evolução. Não interessa o quão feio seja o adulto, quando criança ele hipnotizou ou adultos próximos garantindo sua sobrevivência.
    Pandas são a mesma coisa: hipnotizam as pessoas a ponto de garantir sua sobrevivência - apesar de a natureza ter desistido desses inúteis. E os chineses tranformaram os "óun" de milhares de pessoas em uma maquina de dinheiro: eles detêm o monopólio na exportação de pandas para zoológicos do mundo inteiro.
    Abraços

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  3. "monopólio na exportação de pandas para zoológicos do mundo inteiro"

    Se puxou! hehehehe

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