Muito importante para todos os que lerem as postagens: por vezes estarei falando sério, postando opiniões próprias. Outras vezes estarei brincando com opiniões que poderiam ser minhas, mas não são. E por vezes postarei material totalmente fictício, frutos da imaginação e talvez um pouco influenciados pelas experiências acumuladas ao longo dos anos.
Distinguir o que é realidade e o que é ficção fica a cargo de cada um.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Gauchos das Sombras - s02e02 - Ao resgate

Finalmente a nuvem de poeira sentara. Por detrás de uma antiga taipa, Aline espreitava à distância com um velho e ultrapassado binóculo militar Steiner -Mills 720 7x90 R. Provavelmente sobra do exército rebelde do sul na Insurreição dos 30 Dias, vários anos atrás. A Insurreição fora a origem do Novo Movimento Farroupilha, que iria desencadear a independência arduamente conquistada pelo Rio Grande contra a opressão e tirania do Império Democrático Pan-Brasileiro – ou seja lá qual fosse a nomenclatura atual dada ao poder central de Brasília.

Deitada no chão árido do Sertão Pampeano, considerada a regi]ao do planeta mais hostil ao sul do Trópico de Capricórnio, Aline se perguntava onde teria aquele homem albino conseguido o equipamento necessário para encarar o terreno a céu aberto. O sertão – ou deserto, como alguns estudiosos da Universidade Livre do Rio Grande do Sul já começavam a chamar – estendia-se de Bagé a Itaqui e penetrava em áreas da pampa argentina e uruguaia. Os gaúchos que insistiam em viver das tradições foram obrigados a abandonar as casas de fazenda e passaram a morar em bunkers construídos abaixo do solo. A radiação proveniente do sol fizera com que metade da população desenvolvesse algum tipo de doença de pele – ou assim lhe disse o albino misterioso ao justificar sua aparência fantasmagórica. Os uniformes utilizados eram versões terrestres dos uniformes russos utilizados quando das viagens tripuladas a Marte, capazes de suportar os raios solares em ambientes sem nenhuma proteção de ozônio, como a seca pampa da fronteira gaúcha. Kid – assim se identificara o albino – insistira naquela missão como sendo a única forma de resgatar Getúlio.

- Eu já te disse, princesa – Aline torcia a cara cada vez que era chamada daquela forma, mas desistira de corrigir o homem depois da quinta vez – os castelhanos pegaram Getúlio. E nós somos os únicos que podemos ajudá-lo.

A ideia de contar com apoio logístico da Força Sombra, a Quarta Força Armada, não durou muito. Apesar da insistência de Kid, Aline fora até o Comando Militar de Porto Alegre. Para sua surpresa, fora recebida por militocratas e alguns representantes do governo civil provisório. Nenhum general seis estrelas estava presente na sala de Comando Maior.

- Major Straussmann, tuas ordens são de permanecer na capital até segunda ordem. - O homem miudinho que lhe dirigia a palavra trazia na lapela o terno amarrotado o bóton do Partido Farroupilha. Sem dúvida devia ser o aspone mais elevado no recinto. Aline não tinha a quem recorrer. - O sargento Getúlio é, a partir desse momento, assunto da corregedoria. Qualquer tentativa tua de sair da Zona Militar da Capital poderá resultar em Corte Marcial.

A ameaça gratuita alarmou Aline. Não muito atrás eram heróis, ela, Getúlio e os outros membros das unidades Sombras. Agora, Getúlio estava sendo investigado pela corregedoria por suposta deserção e traição à pátria. Somente então acreditou no albino que lhe telefonara em seu número privado.

Dividida entre os sentimentos escondidos e sufocados que nutria por Getúlio Borges e por sua lealdade ao Novo Exército Farroupilha, Aline sabia que qualquer tentativa sua de salvar Getúlio representaria abandonar a sua carreira militar em ascensão. De outro lado, não conseguia se imaginar cumprindo aquelas ordens. Não lhe parceia razoável. Jamais havia questionado ordens antes, porém uma rebeldia crescia em si, na mesma medida em que Getúlio lhe dominava os pensamentos.

Sem nem ao mesmo saber, sua decisão já estava tomada quando atendeu ao telefonema de Kid, horas antes.

Kid foi quem montou toda a operação. Reuniu o equipamento e os homens (e mulher) necessários para o resgate. Reuniu um grupo disforme, selvagem e indisciplinado que, por alguma razão que desconhecia, parecia funcionar junto. A sensação era a mesma de quando tinha sob seu comando Getúlio, Douglas e os outros, de estar entre os melhores. Renunciara sua farda, mas lá estava Aline, novamente em campo, agora em um missão paramilitar.

Conforme as informações obtidas de um contrabandista doble-chapa do Quaraí, alguns castelhanos estariam utilizando-se de um frigorífico clandestino a apenas alguns quilometros da tríplice fronteira entre a República Riograndense, o Generalato Argentino e o Paraiso Fiscal Oriental del Uruguay, na Barra do Quaraí. Desde que o Rio Uruguai secou, a travessia das fronteiras era extremamente fácil. Afinal, o Império Pan-Brasileiro jamais havia investido em efetivo de segurança nos estados meridionais, uma das reivindicações que levaram à guerra.

Deitada, com o peito dolorido da relva seca a lhe espetar, Aline podia enxergar, através da poeira que sentava, a entrada do pequeno frigorífico. Estava fortemente protegido por soldados utilizando uniformes de sobrevivência similares aos obtido por Kid. Curiosa, acionou seu comunicador Nextel:

- Kid, vejo oito sentinelas no perímetro. Qual o plano?

- O plano, princesa? Ora. É simples demais. Tu sabes o que o argentino tem mais que o gaucho?

- Como assim, não te entendi?

- Tem mais que se fuder. Matamos todos e damos o fora com o Sargento. Precisa mais planejamento que isso?

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