Hoje o dia foi, todo ele, uma preparação. Tanto psicológica quanto logística. Sempre é assim nos dias (e noites) em que a Taísa tem plantão. Nessas datas, minha rotina muda completamente para que eu possa estar em casa a permitir que, as 19 horas (horário de Brasília), Taísa possa entrar no seu plantão noturno.
Hoje, por exemplo, foi um desses dias. O almoço, a ida ao supermercado, a hora do banho, tudo foi pensado deliberadamente para que, chegado o fim da tarde, Tita fosse para o plantão e eu ficasse sozinho com o Henrique durante a noite.
Por mais prazeroso que se seja, é uma responsabilidade enorme. Henrique ainda está na fase em que precisamos manter um olho em cima dele a todo instante. Qualquer saída do ambiente é corrido, às pressas. Em todas as vezes que preciso deixá-lo sozinho (normalmente brincando dentro do berço ou em cima da cama), sem exceção, meus ouvidos se aguçam e passo a escutar todo e qualquer suspiro que ele dê. Sem exageros.
Mas a tensão maior é durante a madrugada.
Sempre que pode, Taísa pede permissão para sair rapidamente do plantão e, em um intervalo de apenas uma hora, vem para casa para dar o mamá do Henrique e fazê-lo dormir, como em todas as outras noites. Até o dia de hoje, sempre foi tranquilo (ou tão tranquilo quanto chegar correndo em casa, dar o mamá para o nenê, fazê-lo dormir e voltar ao trabalho possa ser). Ocorre que nunca antes estive com o coração tão acelerado, assustado.
Nos últimos dias, o Henrique anda extremamente carente. Normal, considerando que pai e mãe também são! Mas ele esteve carente de atenção da mãe. A todo o momento, o único colo que ele queria era da Tita. Choro? Só parava no colo da Tita.
Ainda hoje pela manhã, por várias ocasiões Tita me pediu que ficasse de olho no Riquinho. Fosse qual fosse o motivo (esquentar a sopinha, tomar um gole d'água, trocar de roupa) no dia de hoje sempre que precisei ficar sozinho com o Henrique ele começou a chorar. Só parou quando avistava a Tita - ocasiões em que na hora sorria e gargalhava, como se risse da minha cara de bobo!
"Ah, mas isso é manha!" Pode até ser. Mas agora que Taísa já saiu (de coração partido) e voltou para o plantão, serei apenas eu para zelar pelo meu querido filho. Até as 7 horas da manhã.
Por tudo isso que agora, enquanto ele dorme um sono leve e, espero, lentamente se entrega nos braços de Morfeu, sinto-me apavorado, como em nenhum outro plantão antes, com a hipótese de ele acordar, assustado e chorando, desejando unicamente o colo da mãe.
Ser pai é maravilhoso, mas as vezes dá uma dor no coração...
ATUALIZAÇÃO 1:
Futebol americano na TV. A televisão, sem som, da sala é a única luz em toda a casa. Até mesmo meu computador está com a tela desligada. No sofá, começo a suar, pois as janelas estão fechadas, para que o Henrique não sinta frio durante a noite (ele é extremamente friorento). Ao meu lado está a babá eletrônica, com seus leds verdes e suave ruído de estática.
Estática é bom. Significa que está tudo em silêncio no quarto do Henrique. E silêncio significa que ele dorme gostoso o sono dos justos.
Mas, de inopino, escuto um gemido em alto som. O choro que segue consigo ouvir sem a ajuda da babá eletrônica. Finalmente, quando meu coração começava a se acalmar (faziam apenas alguns minutos que eu falara a telefone que estava tudo bem), veio uma "crise".
E não foi das pequenas.
Normalmente levantamos vááárias vezes durante a noite para conferir nosso Príncipe Dourado (não gostou do apelido? Azar o teu). Via de regra não é nada, apenas susto de pais principiantes. Algumas vezes é o Henrique querendo se virar para dormir de lado ou se re-arrumar na cama - ocasiões em que o pegamos levemente e o colocamos na posição mais adequada para seguir seu sono.
Só que agora a noite o choro foi forte. Não teve jeito de eu acalmá-lo no berço. Foi preciso - medo - pegá-lo no colo pra tentar niná-lo até dormir. O perigo é grande: já com os olhos abertos e a chorar, sair do berço para o colo pode fazer com que eu gaste horas - isso mesmo, horas - e tavez algumas mamadeiras para conseguir acalmá-lo.
Na hora me lembrei do primeiro plantão noturno da Tita após o retorno da licença-maternidade. Eram 4 da manhã. Somente às 5h30 consegui fazer o Henrique dormir de novo. Evidente que nesse meio tempo liguei desesperado para a Taísa, que não pode mais dormir de preocupada... Meu medo é que esta noite vire uma reprise do drama.
Decidido a tirar o bebê do berço, quase pus tudo a perder. Abri mal o mosqueteiro, e o Henrique, mesmo sonolento chorando, se agarrou na tela. Quase desmontamos toda a estrutura do mosqueteiro. O choro se intensificou, pois meu filho se enredou no tecido protetor. Eu mesmo, assustado, tentei puxar aquela coisa para longe. Mais choro, mais alto ainda o volume.
"Ah não, eu sou pai. Eu consigo, porra." Comecei a ninar Henrique em meu colo, com passos para frente e para trás, fazendo leve embalinho. Nada. Comecei a fazer o murmurinho que ele tanto gosta. Um pequeno avanço. Então, me lembrei das dicas da Taísa. Mãe é incrível, sabe tudo que o filho gosta. Com alguns leves tapinhas (é forma de carinho, e não castigo, patrulha do politicamente correto) no bumbum, ele adormeceu, com o rosto grudado em meu peito.
Ainda resmungou umas vezes, mas no fim o sono veio.
Ao colocar de volta no berço, Henrique deu uma última choramingada quando suspenso no ar apenas pelas minhas mãos. No travesseiro, seu mundo era só paz.
Ser pai é maravilhoso. Mas é como dizem: ser pai é padecer no paraíso.
ATUALIZAÇÃO 2:
Acordei, como faço a períodos regulares quando estou sozinho. Em plantões da Tita, ponho o despertador do celular para tocar várias vezes durante a madrugada, pois tenho medo de dormir pesado e não ouvir o Henrique, mesmo pela babá eletrônica. Tudo porque diversas foram as noites que a Taísa me perguntou "tu não ouviste o Henrique chorar essa noite? Precisei dormir com ele na sala, dando mamá" e eu nem percebi o choro do filho ou a ausência da esposa na cama.
Fui verificar o Henrique, em seu sono. Dorme bem. Porém, não tão bem como nas noites normais. Henrique, que ao que tudo indica, será tão rinítico quanto eu e a Tita, está com o nariz parcialmente entupido. Sua respiração é pesada, e posso ver, em pé na cabeceira do berço, que ele passa em alguns momentos pela agitação de encontrar a melhor posição que lhe permite respirar mais facilmente.
Vamos de novo para a cama, torcendo que as próximas horas passem mais facilmente.
Nossa meta é chegar sem mais percalços até as 7 da manhã, fim do plantão.
Ser pai é ter objetivos muito diferentes dos amigos sem filhos...
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