Muito importante para todos os que lerem as postagens: por vezes estarei falando sério, postando opiniões próprias. Outras vezes estarei brincando com opiniões que poderiam ser minhas, mas não são. E por vezes postarei material totalmente fictício, frutos da imaginação e talvez um pouco influenciados pelas experiências acumuladas ao longo dos anos.
Distinguir o que é realidade e o que é ficção fica a cargo de cada um.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

A Verdade

Debaixo dos litros de água quente que se despejavam do chuveiro elétrico, Cléber tentava, em vão, livrar-se daquela sensação desagradável. Desde sempre era tido por todos seus amigos e conhecidos e familiares como um exemplo de marido fiel e respeitoso. Ele mesmo sentia-se assim. Casara-se ainda quando jovem com sua alma gêmea, sua metade da laranja. Eram felizes e um casal exemplar. Jamais pensara em cometer qualquer ato que pudesse, ainda que remotamente, ser considerado uma traição. Mas tudo isso mudara. Ali, embaixo do chuveiro, Cléber revivia cada segundo daquela tarde quente. E a cada memória, sentia-se sujo, imundo, adúltero.

Ainda lutava para compreender como tudo acontecera. Foi tudo muito rápido. Cléber estava dirigindo seu carro, um confortável e elegante sedan nacional, quando viu na calçada, em frente ao banco, uma garota irresistivelmente linda. Caminhava a passos decididos, firmes, com um rebolado que Cléber pensara não existir nesse mundo. Os cabelos volumosos e negros contrastavam contra pele alva e lisa, imaculadamente perfeita. O vestido curto de verão, simples porém sensual, exibia pernas e ombros. Encimada em sapatos de salto alto, Cléber não conseguiu desviar o olhar. O mais impressionante é que nunca sentira-se atraído por mulheres mais jovens. Mas aquela ninfeta era impossível de resistir.

Sem saber de onde veio o impulso, parou o carro ao lado da moça. Ele a admirara apenas de costas, mas mesmo assim estava decidido: precisa tomar uma atitude. Que atitude? Cléber jamais fora o tipo conquistador. Seu casamento mesmo não foi iniciativa sua, precisou ser conquistado, galanteado. Cléber, no fundo de sua mente, percebia o ridículo da situação. Não sabia sequer o que dizer a uma garota.



A tarde, porém, não era de respostas, apenas mistérios. Sem saber como, quando percebeu, já estava no carro com a rapariga deslumbrante em direção a um motel. Não conhecia muitos. Em verdade, não conhecia nenhum que pudesse levá-la. Estava incerto até mesmo sobre a idade da moça.

- Tenho vinte anos – ela falou, macio, através dos lábios carnudos com delicado batom cor-de-rosa.

Ao saber a idade, ficou ainda mais tenso. “Eu nunca fiz isso. Meu casamento...” Mas não conseguia impedir. Sentiu a mão dela, leve e macia, puxar sua mão até as coxas. Ali, no ar-condicionado do carro, podia sentir o calor dela vindo de entre as pernas.

Era impossível resistir, Tudo aquilo era novo para ele. A excitação tomou-lhe conta. A descoberta do desconhecido lhe dava adrenalina para seguir em frente.

O tempo avançava aos borbotões. Suas memórias eram confusas. Esfregando os corpo fortemente com o sabonete, relembrava cada segundo em que viu a nudez daquela mulher pela primeira vez. Seu corpo era de uma beleza como nunca tinha visto antes na vida. Uma escultura que não era vista em revistas de moda ou fofocas. Era forte e frágil em um só corpo. Não sabia ao certo o que fazer ali, na cama, com uma mulher tão linda e tão sexualmente decidida. Foi ela quem tomou a iniciativa da situação e, Deus – ou seria diabos? - , ela lhe deu prazeres que nunca sonhara.

Pela primeira vez ele experimentara todo o potencial do ato sexual com uma mulher, e, embebido em luxúria, obliterou de sua mente seu casamento. No final, deitado na cama, acordou esgotado, suado. E só o que sentia era culpa.

Pediu desculpas à moça – fizera questão de esquecer seu nome – deu-lhe dinheiro para o táxi e partiu, de cabeça baixa e olhos tristes para casa. Sentia vergonha de si próprio. Entregara-se ao impulso e ao prazer como jamais poderia imaginar, quiçá admitir. “Nunca” era a palavra daquele dia. Nunca sentira um corpo tão macio, tenro, cheiroso, delicioso... Basta.

Com as mãos trêmulas, enfiou a chave na porta, temendo ser descoberto pelo olhar. Era noite. A casa estava vazia. Sentiu o estomago tremer. A falta do confronto o fez sentir culpa ainda maior. Foi para o banho, na esperança de lavar embora o cheiro dela, o sabor dela. Queria expurgar seu pecado, sua culpa. Mas não conseguia.

A água quente começava a machucar a pele de Cléber quando ouviu a porta de casa abrir e após bater. De súbito, soube o que devia fazer. Exatamente aquilo que seu caráter de homem integro e correto durante tanto anos exigia. Iria contar a verdade.

Saiu do banho, pegou sua toalha bordada “ele”, colocou as chinelas no pé, e, de chambre mesmo foi até a sala. Eram almas gêmeas, era preciso contar a verdade. Nervoso, cabisbaixo, suas mãos tremiam e sentia que poderia irromper em lágrimas a qualquer momento. Tudo aquilo fora um erro, um episódio fugaz, único. E por causa daquele momento de fraqueza, seu casamento estava por um fio. Somente a verdade poderia mudar aquilo.

- Cléber, meu bem, meu Deus, que cara. Aconteceu alguma coisa?

- Jorge, querido, precisamos conversar...

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