Muito importante para todos os que lerem as postagens: por vezes estarei falando sério, postando opiniões próprias. Outras vezes estarei brincando com opiniões que poderiam ser minhas, mas não são. E por vezes postarei material totalmente fictício, frutos da imaginação e talvez um pouco influenciados pelas experiências acumuladas ao longo dos anos.
Distinguir o que é realidade e o que é ficção fica a cargo de cada um.

domingo, 13 de maio de 2012

Festa no Apê e as Gurias de Erechim


Houve um tempo que todos os dias eram de festa.

Era verão, evidentemente. Mais especificamente, o último verão antes de terminarmos a faculdade. Naquele ano, os pais do Beto – primo do Cebola, que passou a integrar nossa turma nos churrascos e campeonatos de videogame – decidiram não passar férias no litoral. Segundo o Beto, eles teriam comprado um chalé na Serra, ou algo do tipo. Melhor para nós. O antigo apê dos pais do Beto, localizado bem no centrinho da praia, no meio do agito, em cima da sorveteria, era só festa. Todos os dias – pelo menos, todos os dias possíveis.

Empolgados com a perspectiva de um matadouro em local nobre, combinamos todos – Julinho, Ricardo, Rafão, Cebola, Beto e eu – de tirar férias no mês de fevereiro. Emendaríamos com o Carnaval, o gran finale da maratona de agito. O apê era pequeno – um quarto sala antigo, com cozinha – mas era mais que suficiente para nossas ambições.


Por certo não ficamos todos hospedados lá. Mas todos os dias nos reuníamos no apê para as festinhas fora de hora e aquecimentos para a night no Ponto Rock.

Alguém poderia pensar “bah, seis cuecas num apezinho, que sagu!”. Aí que está o equívoco. O Ricardo, naquela época, estava namorando a Julia, uma guria bacana, de Erechim, que ele conheceu no carnaval, anos atrás. Depois de várias idas e vindas, os dois se casaram – mas isso é uma outra história. O fato é que Julia tinha amigas. Muitas amigas.

Owwwwyeaaahhh. As Gurias de Erechim.

Assim como nós, elas também estavam no final da faculdade. Só que, diferentemente, elas não possuíam casas na praia. Vieram de longe para ficar num apartamento alugado, do outro lado da praça. Eram quinze – eu disse QUINZE – gurias, gatas, do interior e querendo festa, espremidas em dois quartos e uma sala-cozinha.

Foi assim que, ao longo de muitos dias, várias festas aconteceram no apê. O dinheiro das férias foi todo em trago. Mais um empréstimo que fizemos a juros baixos (vó do Cebola até hoje não sabe do consignado que fizemos...) A geladeira não vencia a quantidade de bebida que o Julinho estocava.

- Cara, tem que ter de tudo um pouco. Ceva para depois do futebol. Whisky para a noite. Vinho para “reservas especiais”. E mata-mina para, hummm, matar as minas... – dizia ele.

O armário do quarto do Beto teve um canto inteiro para armazenar o estoque de camisinhas. A maldade em nossas almas era grande. Até hoje não sei quem comprou – tenho minhas desconfianças – mas até algemas e um tubo de lubrificante estavam guardados lá...

Em dias de festa, a vizinhança sofria. O som que o Cebola levou era potente pacas. Nós, malandramente, colocávamos as caixas de som na janela da sacada. As Gurias de Erechim chegavam sempre no horário combinado – muito diferente das minas da Capital, que nunca chegavam na hora. Em questão de segundo, lá estavam elas, com suas ingenuidades interioranas e microssaias e barriguinhas de fora dançando na sacada. Não cabiam todas de uma vez, era preciso revezamento. Para nós, era um bloco de carnaval fora de época. Era ali, na sacada, tomando trago em qualquer vasilhame disponível (só não fizemos caipirinha no pinico esmaltado do falecido avô do Cebola e do Beto) que nós aproveitávamos para dar uns pegas nas gurias e tentar leva-las para o quarto.

Evidente que o movimento causado no nosso apê juntava os curiosos e babões abaixo da sacada, em frente à sorveteria. Embalados pelo som no janela, algumas dezenas de pessoas se reuniam para festas improvisadas na calçada. Dava até para ver as caras de bocós do macharedo lá embaixo, encostados nos carros estacionados, implorando para serem convidados. “Desculpa, caras, mas no apê só sobem minas!”

Foi numa dessas festas que o Rafão se fez. Na realidade, todos nós marcamos muitos pontos com muitas das gurias. Mas o Rafão foi o único que conseguiu levar uma morena alta, peitão, coxão, para o quarto. Eu lembro, pois eu estava lá, ninguém me contou.

Era sexta-feira e era pra ser apenas um aquece para o Ponto Rock. A festa começou cedo, nove da noite. Quando bateu uma da manhã, a galera debandou. Ficamos apenas quatro – o Rafão e a morena, eu e a prima dela.

A noite prometia.

O Rafão estava iluminado. Ganhou até o par-ou-ímpar para ver quem ficaria com o quarto. Eu, se quisesse dar o ippon na mina, teria que ser no sofá. Tarefa complicada. E lá se foi o Rafão e a morena para o quarto.

Eu até estava me virando bem na salinha, mas a coisa evoluía lentamente. Já o Rafão, pelos sons que atravessavam a porta, estava em situação bem melhor que a minha, aparentemente. Porém, quando eu estava pronto para dar o fatality, sai a morena do quarto, lágrimas nos olhos e porta afora do apê.

Antes que eu pudesse dizer “só mais um pouquinho”, minha mina já tinha ido embora atrás da prima. Enfurecido, meti o pé na porta do quarto e fui ver que diabos o Rafão tinha feito.

- Cara – o Rafão falava, só de bermudas – tudo ia beleza. A mina tava montada em mim e começou a pirar.

- Como assim, pirar?

- A mina começou a me dar tapa na cara e a dizer “me xinga, seu bruto, me xinga”...

Eu, já prevendo, não resisti a curiosidade:

- E o que tu disseste pra ela?

- “Sua gorda”.

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