Muito importante para todos os que lerem as postagens: por vezes estarei falando sério, postando opiniões próprias. Outras vezes estarei brincando com opiniões que poderiam ser minhas, mas não são. E por vezes postarei material totalmente fictício, frutos da imaginação e talvez um pouco influenciados pelas experiências acumuladas ao longo dos anos.
Distinguir o que é realidade e o que é ficção fica a cargo de cada um.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi.

Eu já havia tido experiências anteriores, levado por meu pai. Mas por ser muito novo, lembro apenas de fragmentos. E as memórias são confusas. Não lembro de muito, apenas de algumas emoções. Evidente que meu, orgulhoso de si, gosta de contar-me as histórias. Mas as memórias, na realidade, são dele, não minhas. Por isso, minha primeira vez, mesmo, oficial, considero aquela da qual tenho memórias completas, na qual pude de fato participar.

Era verão. Dia de calor, como é comum em Porto Alegre. Eu era guri, e quem me levou foi meu padrinho. Junto, estavam os dois filhos guris e o sobrinho dele. Nós quatro tínhamos aproximadamente a mesma idade, o que fazia de nós quatro excitados neófitos.

Saímos cedo, logo depois do almoço. Não faço ideia do quanto meu padrinho gastou. Apenas sei que ele pagou por tudo. Passeio no museu, presentinho na loja oficial, ingressos, refrigerantes...

Era minha primeira vez assistindo o Grêmio no Olímpico.
Lembro-me até hoje da partida. Grêmio 3 x 0 Glória de Vacaria. Era Gauchão, e para ser honesto, não lembro o ano. Mas foi em um dos hexas conquistados na década de 80...

O estádio não estava lotado. Por isso, cada vez que a transmissão das rádios AM apitavam aquele som característico em que o narrador informa o tempo de partida, ouvia-se o eco pelas cadeiras, de onde assistíamos a partida. Durante muitos anos, eu achava que aquele apito era do próprio estádio, e que as rádios o captavam pelos microfones, e por isso eu o ouvia em casa. Mas, como eu disse, eu era muito novo, e ainda não sabia das coisas.

Aquele foi o primeiro de muitos jogos no Monumental. Houveram muitos, muitos, muitos outros. Todos especiais. Todos simbólicos. Até mesmo os mais insignificantes.

Durante a década de noventa, meu pai me levava ao estádio apenas em jogos internacionais. Era uma fixação dele. Jogos contra os argentinos do Racing e Independiente, uruguaios como Peñarol, eram os favoritos dele. Nos outros jogos eu tinha de ir com os amigos – e os pais deles – pois minha mãe não me deixava ir sozinho. Não enquanto eu ainda era criança. Jogos em dia de semana, a noite, tinha de ser com algum adulto. Como meu pai e minha mãe já eram separados, e eu via o velho apenas uma vez por semana, o dia que ele me pegava em casa para passear era, justamente, os dias de jogo no Olímpico. Aquele era o nosso vínculo, nosso tempo junto.

São muitas memórias. A maioria boas, felizes, emocionantes.

Orgulho-me de dizer que eu estava lá, nas arquibancadas, naquela histórica final em 1995. De novo o Grêmio marcou três gols, dessa vez contra o Nacional de Medellin. Aquela foi apenas a mais proeminente partida que acompanhei do mais sensacional time do Grêmio que pude acompanhar em minha vida. Nasci em 1981, então era muito pequeno para apreciar o time de 1983. Mas o de 1995, ah, aquele time fez o Olímpico brilhar de forma diferente aos meus olhos. Naquele ano eu aprendi a força do nosso estádio. Dentro do Olímpico quem manda é o Grêmio. E eu sorria a cada final de jogo.

Eu também estava lá em 2007, quando a esperança de toda uma nação desmoronou diante do talento de Riquelme. Se por um lado eu nunca vi melhor time que o de 1995 desfilar pelos gramados do Monumental, de outro lado não vi torcida mais apaixonante e empolgada que a nossa em 2007. Foi um ano de imortalidade, com vitórias sofridas embaladas no grito. Minha voz nunca mais foi a mesma. Ir ao estádio significava, como diz meu primo mais velho, “empurrar o fuca”. Mas naquela partida não foi suficiente. E chorei.

Lembro-me do meu primeiro Grenal. No Olímpico, evidentemente.

Eram outros tempos. Metade do estádio para cada torcida. Era estranho – e hoje parece até aviltante – que metade no Olímpico ficasse manchado com o vermelho da torcida adversária. Mas era assim. Confrontos? Apenas no grito. As torcidas entravam por portões que de tão próximos faziam com que as massas azul e vermelha se empurrassem de lado a lado.

Eu tinha 13 anos em meu primeiro Grenal. Sem minha mãe saber, eu e um amigo fugimos no domingo de sol – sempre é domingo de sol nas minhas lembranças – para ir assistir ao jogo. Estávamos ansiosos, e não sabíamos o que esperar. Com certeza, não esperávamos ficar em um decepcionante empate em um a um. Mas a sensação de estar naquela partida foi algo que nenhuma outra proporcionaria.


Fui a muitas partidas, ao longo dos anos. Certamente não fui a todos os jogos que gostaria, mas vivi o Olímpico como se fosse minha segunda casa. E agora, neste domingo, justamente em um Grenal, assistirei uma partida do meu Grêmio pela última vez nas arquibancadas do bom, velho e copeiro Olímpico Monumental.

Não importa o quanto eu sorria, o quanto eu cante, o quanto eu vibre. Ao final da partida, eu terei os olhos marejados, emocionados. Pois no concreto do velho estádio, junto com outros cinquenta mil irmãos tricolores, eu darei um longo e melancólico adeus.


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