Muito importante para todos os que lerem as postagens: por vezes estarei falando sério, postando opiniões próprias. Outras vezes estarei brincando com opiniões que poderiam ser minhas, mas não são. E por vezes postarei material totalmente fictício, frutos da imaginação e talvez um pouco influenciados pelas experiências acumuladas ao longo dos anos.
Distinguir o que é realidade e o que é ficção fica a cargo de cada um.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Prazer em Escrever

Tudo junto: Henrique, trabalho, escrever...

Eu lembro quando comecei a escrever meu primeiro texto para este blog. Era dezembro, o calor do verão já havia chegado, mesmo sendo ainda oficialmente primavera. Deitado na minha cama de solteiro, porta do quarto fechada para otimizar o desempenho do ar-condicionado, eu encarava a tela do meu laptop (nunca gostei de usar a palavra notebook) enquanto o calor do pequeno computador, assim como agora, esquentava minha barriga.

Eu havia acabado de ver algum episódio de Battlestar Galactica e, como era muito comum àquela época, não conseguia dormir. Havia uma voz presa dentro de mim que precisava sair. Eu precisava dar vazão à minha inconformidade, aos meus anseios, a seja lá o que fosse, sob pena de, literalmente, sofrer fisicamente os efeitos de mais uma noite reprimindo a urgência que brotava na boca do estômago.

Havia pouco que eu superara um quadro de depressão – sim, hoje eu posso admitir ter sofrido da doença, mesmo que ainda não goste muito de falar a respeito. Reprimir aquela voz que brotava, com força cada vez maior não era de meu interesse. Logo peguei meu velho (que ainda era novo) laptop e, afinal, usei-o para algo que não jogos ou filmes.

Escrever seria minha terapia. O escape das minhas decepções cotidianas em busca de um sonho infantil. Quiçá, da sanidade.


Já desde garoto gostava de escrever. Foi ainda no 1º grau, nas aulas de português, que descobri possuir a vontade de ser escritor. Desde cedo fui incentivado a ler. Li muito. Hoje nem tanto quanto gostaria, mas no colégio.... Nunca encarei de nariz torcido as leituras obrigatórias. Pelo contrário, costumava ler mais de um livro das listas apresentadas, apenas para escolher o que eu gostara mais para responder a prova. De gostar de ler a gostar de escrever foi natural. Naquele longínquo ano de mil novecentos e noventa e bolinhas – tenho quase certeza que foi na quinta série – nossa professora passou o ano inteiro a exigir uma redação semanalmente. Por vezes o tema era definido previamente, outras vezes era livre. Lembro-me de uma ocasião em que, apesar de livre o tema, a professora nos passara uma lista de cerca de vinte palavras aleatórias e nada relacionadas entre si que obrigatoriamente deveriam utilizadas. O desafio fez-me contar uma história de detetive (influência direta de Agatha Christie, que eu muito lia na época) em que eu precisei de cerca de dez páginas para escrever tudo o que imaginara. Foi assim que ser escritor tornou-se meu sonho de menino, logo depois de ser astronauta e viajar pelo espaço. Como naquela época não existiam astronautas brasileiros, escritor eu seria.

Enquanto encaro o longo hiato que se instalou no blog desde meu último post, reflito os motivos para este prolongado silêncio. E, justiça se faça aos meus amigos, incentivo para escrever não faltou. Tampouco ocasiões especiais, como datas, acontecimentos nacionais e internacionais de relevância. Até mesmo boas ideias para pequenos e medíocres contos de ficção brotaram-me em profusão neste período (sobretudo no banho), sem que eu tivesse a disciplina de tomar nota e depois sentar-me com calma e desenvolver o texto.

Primeiramente, minha vida pessoal mudou. O nascimento do Henrique, que muito me inspirou a escrever algumas de minhas histórias favoritas, me exige responsabilidades que antes inexistiam. Natural, portanto, que eu dedique – que eu QUEIRA dedicar – meu tempo livre para ele ao invés de para o computador e o teclado. Isto e pelo o importantíssimo fato de que meu filho trouxe-me uma alegria, uma felicidade tamanha que meu espírito inteiro se elevou. Se antes eu escrevia com o intuito de exorcizar demônios interiores, na tentativa de aplacar a voz que surgia, por vezes raivosa, infeliz ou apenas ansiosa, com a chegada do Henrique isto não mais era necessário. Ser pai, ou melhor, ser pai do Henrique me fornece toda a felicidade que preciso para manter-me são. E a voz que urgia acalmou. Silenciou.

Também profissionalmente encarei mudanças. Ser pai, com todas as responsabilidades inerentes, me obrigou a buscar algo novo, sobretudo tendo em perspectiva a condição financeira. Ocorre que ao procurar dinheiro encontrei nova motivação, que já me faltava quando de meus primeiros textos, para dedicar-me ainda mais à minha verdadeira profissão.

Se enquanto criança eu sonhava sem escritor, ser advogado é a profissão que me define, com muito orgulho e paixão. Nestes últimos anos descobri em mim o desejo de ser mais que apenas um bom advogado. Hoje tenho a ambição de ser melhor. Melhor que os outros? Não necessariamente. Melhor do que sou hoje. Tornar-me um grande advogado, do tipo que entra no tribunal e faz os estudantes de direito cochicharem enquanto passo, assim como atletas da categoria de base do time fazem quando chega os atletas profissionais, campeões... E tal ambição demanda tempo, esforço, concentração, de forma que escrever criativamente caiu mais uma posição na lista de prioridades.

Não que eu tenha deixado de escrever. Pelo contrário. Toda a experiência amealhada em anos – nas redações escritas a lápis em folhas de almaço no primeiro grau, no estudo de técnicas de redação argumentativa durante o segundo grau, nas aventuras pretensamente literárias que encarei para este blog – me permite hoje escrever páginas e páginas de conteúdo jurídico semanalmente. Ao invés de publicar o que escrevo, porém, protocolizo as peças processuais perante repartições judiciais. Se há qualidade naquilo que escreve na defesa de meus clientes? Assim espero e é para isto que trabalho. Porém, sem sombra de dúvidas, desejar ser escritor fez de mim, ao final e ao cabo, um advogado melhor.

Encaremos a realidade. Não sou escritor, mas desejava muito sê-lo. Falta-me algo que ainda não pude descobrir o quê para de fato ser algo mais que um entusiasta. Não obstante, escrever foi um processo presente em toda a minha vida. É meu ganha pão e também minha ferramenta para buscar a singela ambição revelada anteriormente. Mas é sobretudo um prazer. Pois sempre que escrevi, ao final, independentemente do texto escrito – e de sua boa ou má qualidade – restou-me o espírito leve e o sorriso no rosto. Como de alguém que realiza seu sonho infantil.

E eu nem ao menos lembro o nome da professora para poder agradecê-la devidamente.

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