Muito importante para todos os que lerem as postagens: por vezes estarei falando sério, postando opiniões próprias. Outras vezes estarei brincando com opiniões que poderiam ser minhas, mas não são. E por vezes postarei material totalmente fictício, frutos da imaginação e talvez um pouco influenciados pelas experiências acumuladas ao longo dos anos.
Distinguir o que é realidade e o que é ficção fica a cargo de cada um.

domingo, 9 de agosto de 2009

Quem entender ganha um doce

Após anos de relacionamento com Natália, Adílson afirmava de forma categórica: não existe nada no mundo mais complicado que cabeça de mulher. Homem algum é capaz de entender o que se passa na mente de uma mulher. Nem mesmo outra mulher é capaz de entender sua semelhante. São eternas insatisfeitas, mas por quê?

Apesar de felizes em seu casamento, não raras eram as vezes em que se desentendiam a respeito de coisas banais, triviais. O raciocínio lógico e cartesiano de Adílson parecia afrontar a emotividade com que sua companheira pensava. Natália costumava reclamar que os homens – e por serem todos iguais, também Adílson – reclamam demais da forma de pensar das mulheres. Adílson bem que tentou entendê-la. Mas é impossível a qualquer homem compreender a confusão que são os pensamentos femininos. Simplesmente resignou-se. Amava, como ainda ama, sua esposa, bonita e inteligente. Mas entendê-la é impossível.

É inerente à condição masculina, em certo ponto da vida, levar puteada da esposa ou namorada sem saber o motivo. Simplesmente acontece. É como masturbação ou filme do Charles Bronson: faz parte da vida do homem. Certa vez, quando ainda eram namorados, na saída do cinema após assistir a mais uma comédia romântica igual a todas as outras, Adilson foi surpreendido com a pergunta: costumava falar dela, sobre a intimidade de casal, com seus amigos? Pensou por um momento e respondeu honestamente, com a consciência leve: “não”. Afinal, quando homens se reúnem, querem beber cerveja, falar baixaria, bobagens e sobre outras mulheres hipotéticas. Adilson, confiante na sua resposta e na insignificânsia da pergunta podia jurar que a conversa ficaria por isso mesmo. Ledo engano. Seguiu-se um longo suspiro e aquela frase quase inaudível: “tu tens vergonha de mim?”. Era “a” definição de chantagem emocional. A expressão de insatisfação na face de Natália dizia tudo. A noite terminara, e Adilson foi dormir sozinho em sua cama.

Aliás, quando solteiro, Adilson jamais soube valorizar o seu sono. O simples fato de ter uma cama só sua, com os lençóis e cobertas apenas para si era algo que merecia reconhecimento. Afinal, o homem depois de casado nunca mais terá onde dormir. A cama é da mulher. As cobertas, também. Tudo o que tem é o seu travesseiro. Morando junto com Natália a alguns anos, Adílson pode perceber, em um momento de inspiração divina, que na condição de homem casado tão somente conquistara o direito de dormir com sua mulher. Ela é quem permitia que ele dormisse na sua cama. E pouco importa que tenha sido ele quem comprou a cama com seu próprio dinheiro, com o colchão do jeito que gostava. Na cabeça de Natália, ela é quem manda na cama – e não, não se trata de sexo!

Recentemente, reunido com seus amigos no bar de sempre, Adílson percebeu que não conseguia saborear sua cerveja ou mesmo falar as besteiras comuns àquele momento sagrado de confraternização masculina. Até mesmo seus amigos, já bêbados e com a atenção fixa na nova garçonete que fazia treinamento no bar, perceberam que algo estava errado com Adílson.

Ao chegar em casa, foi até o quarto de casal onde, na cama, Natália lhe esperava assistindo à novela na televisão. Como quem quisesse compartilhar uma grande descoberta, ainda ébrio da cerveja consumida no bar, Adilson tomou a iniciativa da conversa:

“Lembra que eu reclamei que estava dormindo mal nas últimas noites? Que eu me queixava que sempre ficava sem cobertas durante a noite e por isso passava frio e acordava no meio da madrugada? Pois eu comentei com a turma do bar que tu costuma roubar as cobertas durante a noite e descobri: todas as mulheres roubam as cobertas quando dormem. É algo da natureza feminina. Não dá pra lutar contra. As namoradas deles fazem o mesmo. Viu? Agora sei que não adianta mais eu reclamar!”

“Como é que é?” O rosto de Natália franziu-se ao ponto de causar medo em Adílson. “Tu estavas falando sobre mim e nossa intimidade com aqueles teus amigos?” A voz imprimida era de profunda repreensão.

Mesmo sem entender direito, naquela noite Adilson dormiu no sofá.

2 comentários:

  1. o adilson deveria largar o enfrentamento de mão e passar a mimar a natália. aposto que diminuiria a chance de ser mandado pra fora da cama.

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