Muito importante para todos os que lerem as postagens: por vezes estarei falando sério, postando opiniões próprias. Outras vezes estarei brincando com opiniões que poderiam ser minhas, mas não são. E por vezes postarei material totalmente fictício, frutos da imaginação e talvez um pouco influenciados pelas experiências acumuladas ao longo dos anos.
Distinguir o que é realidade e o que é ficção fica a cargo de cada um.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Gauchos das Sombras - Cap. 10: Dia da Independência

O calor que se abateu em Porto Alegre nas ultimas semanas era pavoroso. Jamais a Unidade de Metereologia havia registrado temperaturas tão altas na capital dos gaúchos. As árvores sobreviviam apenas nas regiões protegidas por escudos de ozônio. Na Extrema Zona Norte, a vegetação queimava como pasto seco. Durante a onda de calor – atribuída por cientistas a uma erupção solar – a cidade ganhava vida apenas à noite.

Getúlio esperou o sol se por para sair de casa e procurar um lugar para almoçar. Era estranho ter tempo livre, mas não passava por sua cabeça reclamar da folga recebida. Após tanto tempo usando uniformes, a roupa civil parecia desconfortável. O tênis Adidas, a camiseta de futebol e até mesmo suas calças jeans haviam sido fabricadas na China. Para um homem do tamanho de Getúlio, roupas chinesas eram sempre apertadas.


Caminhando a esmo pelo Nível Inferior da Avenida Farrapos, lembrou dos momentos com seu pai e de como ele contava que um dia a cidade tivera apenas um andar. Era estranho imaginar grandes centros urbanos, como Porto Alegre, com mais de cinco milhões de habitantes, sem a construção de níveis. Na prática, alguns bairros inteiros passaram a ser subterrâneos na medida em que a cidade crescia cobrindo o céu. O Nível Inferior, portanto, guardava a antiga Porto Alegre.



Getúlio passou em meio ao mar de pessoas que circulavam pela avenida. Trabalhadores, mendigos, viciados e prostitutas. Era impressionante o cheiro de suor que aquela gente exalava. Getúlio não se importava. Ali, sentia-se em casa.

No Bar do Kid, entrou com naturalidade. O restaurante, frequentado principalmente por desempregados, oferecia comida barata e cerveja gelada. Uma atendente, gorda e com o avental sujo, dirigiu-se até a mesa onde Getúlio sentara-se.

- O de sempre, bonitão?

- E uma daquelas feitas em Santa Cruz do Sul, por favor. Bem gelada.

Com um prato de feijão, arroz, bife de gado clandestino e batata transgênica frita, Getúlio finalmente abriu o jornal para ler as noticias. Na condição de membro do Exército Neo Farroupilha, sua desatualização das notícias era imperdoável. Já na primeira página ficou supreso com o que lia.

O Diário Pan-Brasileito, editado em Brasília, era impresso por hackers gaúchos que conseguiam acessar sites proibidos da internet e vendido apenas na Banca da Alfândega, no centro de Porto Alegre. Era um produto raro. Getúlio lia, assoberbado, que o Ministro da Justiça, Segurança e Bem-Estar, em entrevista coletiva, anunciara a expulsão do Rio Grande do Sul do Pan-Brasil. Explicava que as razões eram econômicas, que os gaúchos, estagnados e em perigo de recessão, ofereciam risco ao crescimento sustentável e expansionista do Império. A matéria contava que a decisão foi aprovada por oitenta e sete porcento da população pan-brasileira. Por fim, a matéria relatava como, em um ato de generosidade e de compensação pela expulsão do Pan-Brasil, os gaúchos receberiam Itaipu I de presente.

- Incrível como tem gente que acredita em tudo o que o Ministério diz.

Getúlio, focado na leitura do jornal e em seu feijão com arroz não percebeu a aproximação do estranho que, ainda falando, de súbito sentou à sua mesa. Era magro, de cabelos bem penteados e estava impecavelmente vestido. Não pertencia ao Nivel Inferior, isso era certo.

- E pensar que tu, o verdadeiro herói da independência, não receberás os louros da glória. – O homem estendeu a mão e pegou, sem nenhum pudor, o copo de cerveja de Getúlio.

Getúlio não gostava de ser importunado em suas refeições. Todos no Bar do Kid sabiam. A atitude daquele babaca arrogante significava uma única coisa: problema.

- Se eu fosse tu, senhor Borges, não tentaria criar confusão. Não gostaria que meus homens tivessem que entrar nessa espelunca e ficarem fedendo a gordura rançosa.

A expressão de Getúlio ficou vermelha de raiva. Odiava quando lhe chamavam pelo sobrenome. Especialmente quando brutamontes estavam na retaguarda. Achou incrível que em tal circunstância sua mente vagasse até Aline e de como ela usara aquele mesmo tom de voz para demonstrar quem estava no controle da situação na primeira vez que a viu. Não pode deixar de sorrir.

- Agora que terminou de comer, senhor Borges, farias o favor de acompanhar-nos?

- Quem diabos são vocês?

- Mas que falta de educação a minha. Muito prazer, eu sou o novo Embaixador do Generalato Argentino.

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4 comentários:

  1. Revisa aí, que tem alguns errinhos de ortografia!

    Mas a ambienta;ção está ficando boa!

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  2. ortografia revisada.

    quaisquer erros que ainda persistam serão corrigidos quando da versão impressa!!!!!

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  3. Vai querer dizer que nao passou o fim de semana em Porto Alegre também?
    Nem um pouco autobiográfico...
    Daqui 1 mês o Getúlio ganha presente de Natal...
    Tá virando novela!
    eheheheh
    Abraço.

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