Muito importante para todos os que lerem as postagens: por vezes estarei falando sério, postando opiniões próprias. Outras vezes estarei brincando com opiniões que poderiam ser minhas, mas não são. E por vezes postarei material totalmente fictício, frutos da imaginação e talvez um pouco influenciados pelas experiências acumuladas ao longo dos anos.
Distinguir o que é realidade e o que é ficção fica a cargo de cada um.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Gauchos das Sombras - Cap. 9: Cúpula Militar

A Major Aline Staussmann era a única mulher oficial da Força Sombra. Em um ambiente machista, ela conquistou o respeito de todos. Sua competência e lealdade eram inquestionaveis. Todos lembravam do episódio alguns anos antes, quando, cumprindo ordens da cúpula militar gaucha, assassinou a então Supervisora do Estado.

A Supervisora, indicada pelo já então Ministro da Justiça, Segurança e Bem-Estar, viera de São Paulo para administrar os gaúchos com mão de ferro. Desde sua chegada, animosidades politicas reacenderam e inflamaram antigas pautas separatistas. A Assembleia Legislativa, apesar de seu papel puramente figurativo em razão do tradicionalismo gaúcho, foi dissolvida pela primeira vez na história do Império. Foi então que o Partido Pela Independência, atuando na clandestinidade, iniciou uma campanha popular pela desmoralização da Supervisão do Império no Rio Grande do Sul. Acusações de corrupção e desvio de dinheiro público eram apenas o início. Suspeitas de favorecimentos e desvios de dinheiro público em favor de empresas situadas em Brasília e São Paulo eram veiculadas em sites na Internet com base no exterior. A mídia impressa, de rádio e de televisão estava sob o controle da Polícia Ideológica e do Ministério da Informação Oficial, mas a Internet permanecia livre, para o desespero da Supervisora. Em resposta, com a concordância do Ministro da Justiça, foi decretada a execução sumária de qualquer um suspeito de colaborar com o PPI.



Uma Comissão Política de Inquérito foi aberta para investigar a Supervisora. Era a quadragésima segunda CPI naquele ano. Apesar da aparente investigação, tratava-se, na verdade, de uma ação do Setor de Controle da Informação da Polícia Ideológica para tentar apaziguar os animos da população. O resultado, todavia, foi uma já esperada absolvição da Supervisora de todas as acusações e o desaparecimento de todas as supostas provas de utilização de dinheiro público. Os opositores, gaúchos influentes de todas as querências, igualmente desapareceram. Foi então que o Comando da Brigada Militar resolveu agir. E recrutou uma jovem ambiciosa para a missão de executar a Supervisora.

Aline ainda se lembrava. Não foi sua primeira morte. Mas foi definitivamente a de maior repercussão. O método utilizado surpreendeu não apenas às autoridades pan-brasileiras, como também aos seus prórpios superiores. A morte da Supervisora foi o estopim para a deflagração do movimento Neo-Farroupilha pela independencia do Estado Gaúcho. Foi o com aquela missão de Aline que a causa separatista ganhou as ruas e o Novo Exército Farrapo se originou. Apesar do rigor e eficácia da Polícia Ideológica, Aline iniciou a guerra que levou os gaúchos a se separarem do Império Pan-Brasileiro.
Ao entrar na sala do Comando, Major Aline Straussmann reconheceu os mesmos homens que lhe recrutaram, treinaram e confiaram a missão anos antes. Sabia o que a presença daqueles quatro generais em uma única sala significava. Na sala, contudo, havia a presença de um quinto homem. Podia perceber claramente que era também um militar, e seu uniforme sugeria pertencer ao Generalato Argentino.

Os Comandantes Generais, cada um responsável por uma das Forças Militares, estavam em seus uniformes de campo. Esse detalhe, todavia, não impedia que a vaidade lhes tomasse conta. Cada um ostentava suas medalhas, grevas e estrelas como se estivessem em uma competição.

- Minha cara Aline. – O comandante da Força Sombra foi quem rompeu o silêncio do ambiente. – Não podes imaginar o quanto estamos satisfeitos com o resultado da tua operação em Florianópolis. Os arquivos secretos da Policia Ideológica, mais as informações obtidas diretamente do ex-chefe Arnaldinho, permitirão que finalmente possamos negociar a paz com o Ministro da Justiça Pan-Brasileiro. Meus parabéns.

Aline parou e pensou por um instante. “Informações obtidas diretamente do prisioneiro?” Getúlio havia insistido em trazer para solo gaúcho Arnaldo de Sá. Seu argumeno fora bastante convincente: com o homem mais poderoso da Região Sul do Império como refém, esperava que não fosse utilizada artilharia pesada contra o veículo de fuga da unidade sombra. Ledo engano. Um missel ar-terra MAR-9 tirou a vida de dois soldados pôs Douglas Zuchinni em coma.

Ainda assim, não entendia como poderia aquele homem colaborar a ponto de fornecer informações vitais sobre o Império Pan-Brasileiro – e, mais importante, da vida privada do Ministro da Justiça. Ela mesma conduzira o interrogatório. Era impressionante como ela ficava sensual ao conduzir seus interrogatórios. Muitos dos interrogados entregavam seus segredos sem qualquer tipo de coerção física. O segredo, ela dizia para arrepio dos demais oficiais, estava em usar uma saia justa, ao invés de calças. E sem roupa íntima. Durante o interogatório Arnaldinho revelara-se surpreendentemente resistente a todos os métodos de questionamento. Apesar de bufão e político incapaz, possuia uma excelente resistência à tortura.

Foi então que, horrorizada, Aline vislumbrou seu prisioneiro. Decapitado. A cabeça, dentro de um cilindro de vidro e cheia de fios, conectores e eletrodos, estava sendo mantida em suspensão crio-salina. Aline sabia que estavam desencriptando as informações do cérebro de Arnaldinho. Todas suas memórias, pensamentos e vontades estavam sendo transformadas em estimulos binarios que eram depois interpretados por supercomputadores. Era preciso um quilometro quadrado de processadores para desvendar os segredos do cérebro humano.

E os Neo-Farroupilhas estavam usando aquela tecnologia desenvolvida em Pequim em prisioneiros de guerra. Aline não sabia ainda, mas não estava a vontade com os métodos empregados por seus superiores.

- Major Straussmann – quem falou agora era o General Comandante do Exército – este envelope contém tuas novas ordens. Podes retirar-te.

A forma com fora dispensada era estranha. Suspeita. Mas foi a ordem dada antes de finalmente retirar-se da sala de comando que a deixou intrigada.

- E Major, o Sargento Getúlio Borges não mais fará parte de tua unidade. Não. Sem perguntas.

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