De forma muito respeitosa, peço vênia ao posicionamento adotado pelo colega Cristiano Nygaard Becker em seu texto “Bancos e clientes: uma questão de imparcialidade”, publicado no Espaço Vital de 14.05.2010.
Com efeito, concordo com sua premissa de que o ser humano tende, naturalmente, à parcialidade. Tal circunstância vem muito da empatia com determinadas causas e situações, e os “conflitos” bancários atingem a quase totalidade da população. Dessa forma, é natural que existam ideologias contrárias e favoráveis às práticas das instituições financeiras.
Acontece que exigir imparcialidade, pura e simples, na análise de situações envolvendo instituição bancárias e consumidores é simplesmente absurdo. Isto porque a própria legislação brasileira reconhece a desigualdade entre as partes – basta ver as proteções previstas no Código de Defesa do Consumidor. Nesse sentido, aliás, o STF decidiu, no mérito, através da Ação Direta de Inconstitucionalidade - ADIn nº 2.591 (decisão publicada no DJ nº 114, de 16 de junho de 2006), proposta pela Confederação Nacional do Sistema Financeiro, que a Lei 8.078/90 é sim aplicavel aos contratos bancários.
Muito importante para todos os que lerem as postagens: por vezes estarei falando sério, postando opiniões próprias. Outras vezes estarei brincando com opiniões que poderiam ser minhas, mas não são. E por vezes postarei material totalmente fictício, frutos da imaginação e talvez um pouco influenciados pelas experiências acumuladas ao longo dos anos.
Distinguir o que é realidade e o que é ficção fica a cargo de cada um.
Distinguir o que é realidade e o que é ficção fica a cargo de cada um.
sexta-feira, 14 de maio de 2010
terça-feira, 13 de abril de 2010
O Advogado do Mendigo ganha fama...
"O Advogado do Mendigo" foi publicado na edição de hoje, 13.04.2010, do Espaço Vital, sob o título "A primeira audiência, a gente nunca esquece".
Por motivos de espaço, a história passou por algumas edições. Compare e releia!
Em tempo: charge de Gerson Kauer, para o EV.
quarta-feira, 7 de abril de 2010
Princesinha
Princesinha.
Não houve discussão. Todos concordamos que ela era uma verdadeira princesinha. Pequena, macia, bonita, com cabelos negros esvoaçantes que emolduravam seus olhos azuis que mais pareciam jóias de uma coroa.
Definitivamente uma princesinha.
Era inverno. A noite estava fria, mas ainda assim insistimos em reunir a turma da praia. À excessão do Ricardo, que morava no interior, todos nós morávamos na região metropolitana. Fomos ao bar favorito do Cenoura, afinal a ocasião era para comemorar seu novo emprego.
Chegamos no bar juntos, Julinho, Rafão e eu. O frio parecia impedir o Julinho de fazer sua mágica com as garotas na calçada em frente ao bar, por isso nos apressamos a entrar, antes que o Rafão realizasse a sua. O Rafão vocês conhecem: era o repelente de mulheres da turma. Gente finíssima, ótimo caráter, mas terrível com a mulherada. Entramos e atravessamos o bar até o jardim de inverno, nos fundos. Bar chique. Provavelmente caro. Mas iamos beber todos na conta do Cenoura, com seu novo salário, então...
Não houve discussão. Todos concordamos que ela era uma verdadeira princesinha. Pequena, macia, bonita, com cabelos negros esvoaçantes que emolduravam seus olhos azuis que mais pareciam jóias de uma coroa.
Definitivamente uma princesinha.
Era inverno. A noite estava fria, mas ainda assim insistimos em reunir a turma da praia. À excessão do Ricardo, que morava no interior, todos nós morávamos na região metropolitana. Fomos ao bar favorito do Cenoura, afinal a ocasião era para comemorar seu novo emprego.
Chegamos no bar juntos, Julinho, Rafão e eu. O frio parecia impedir o Julinho de fazer sua mágica com as garotas na calçada em frente ao bar, por isso nos apressamos a entrar, antes que o Rafão realizasse a sua. O Rafão vocês conhecem: era o repelente de mulheres da turma. Gente finíssima, ótimo caráter, mas terrível com a mulherada. Entramos e atravessamos o bar até o jardim de inverno, nos fundos. Bar chique. Provavelmente caro. Mas iamos beber todos na conta do Cenoura, com seu novo salário, então...
sábado, 3 de abril de 2010
O Advogado do Mendigo
O Direito brasileiro em nada se parece com os filme de tribunais produzidos em Hollywood. Muito pelo contrário. Já vai tempo que as salas de audiência perderam sua pompa e magnitude. A Justiça do Trabalho, por exemplo, por seu caráter popular e de abrigo ao cidadão humilde e simples, produz acontecimentos além da imaginação.
Certa feita, quando ainda era acadêmico, fui cedo para o prédio da Justiça do Trabalho para observar audiências – requisito para uma cadeira da faculdade. Com a devida permissão do Juiz, um homem ainda novo vestindo camisa e gravata, sem o paletó, que em nada correspondia à idéia de um velho de cabelos brancos e de capa preta, sentei-me em uma cadeira colocada contra a parede, embaixo da única janela da sala. É difícil descrever o que senti quando, pela primeira vez, me deparei com aquele ambiente onde o Direito ganhava vida. Dentro de instantes eu veria advogados, juiz e partes atuarem em seus papéis, tirando as leis do rigidez do papel e colocando-as na maleabilidade do mundo real. Definitivamente, eu estava intimidado. O Juiz e sua secretária, ao notarem meu nervosismo, trataram de dar logo início à pauta do dia. “Após a primeira”, disse-me o doutor magistrado, “as audiências desmitificam-se”.
Soou o aviso. Pelos autofalantes do fórum foram as partes chamadas para a primeira audiência inicial do dia. Rito ordinário. Coisa simples, disseram-me colegas mais velhos. Abriu-se a porta da sala. Eu podia sentir o frio do saguão entrar pela porta e, pior, sentia o frio na barriga, mas mantive-me em posição para anotar tudo que acontecesse durante aquela minha primeira audiência.
Certa feita, quando ainda era acadêmico, fui cedo para o prédio da Justiça do Trabalho para observar audiências – requisito para uma cadeira da faculdade. Com a devida permissão do Juiz, um homem ainda novo vestindo camisa e gravata, sem o paletó, que em nada correspondia à idéia de um velho de cabelos brancos e de capa preta, sentei-me em uma cadeira colocada contra a parede, embaixo da única janela da sala. É difícil descrever o que senti quando, pela primeira vez, me deparei com aquele ambiente onde o Direito ganhava vida. Dentro de instantes eu veria advogados, juiz e partes atuarem em seus papéis, tirando as leis do rigidez do papel e colocando-as na maleabilidade do mundo real. Definitivamente, eu estava intimidado. O Juiz e sua secretária, ao notarem meu nervosismo, trataram de dar logo início à pauta do dia. “Após a primeira”, disse-me o doutor magistrado, “as audiências desmitificam-se”.
Soou o aviso. Pelos autofalantes do fórum foram as partes chamadas para a primeira audiência inicial do dia. Rito ordinário. Coisa simples, disseram-me colegas mais velhos. Abriu-se a porta da sala. Eu podia sentir o frio do saguão entrar pela porta e, pior, sentia o frio na barriga, mas mantive-me em posição para anotar tudo que acontecesse durante aquela minha primeira audiência.
quarta-feira, 3 de março de 2010
Praia, Noite e a Lua
Era sábado de verão. Como de praxe, estavamos todos na praia. A nossa turma era capaz de passar o ano inteiro sem se encontrar, cada um envolvido com suas aulas, trabalhos, etc. Apesar de vivermos todos na capital, era no litoral que encontravamos a nossa identidade. Quando chegava janeiro era sagrado: todos os fins de semana, um por um, iamos para nossas casas na praia e lá nos reuniamos para fazer o que todos os guris de 15 a 20 anos fazem. Festa.
Evidente que o objetivo eram as gurias. Alguns, como o Julinho e o Ricardo, faziam as garotas comerem nas suas mãos. Era impressionante. Não tinha noite que eles não se dessem bem. Há quem diga – eu nunca via, mas dizem com tanta convicção que pode até ser verdade – que o Julio certa vez sai agarrado com duas amigas simplesmente porque não conseguia decidir qual das duas era a mais bonita.
Já outros, como o Cenoura e eu, ralávamos para ter uma chance com as gurias. Não eramos de todo ruim, mas conseguir mostrar para aquela guria no balcão do bar ou na pista de dança que eramos o cara ideal era sempre uma tarefa estafante. Recompensadora, óvio, mas cansativa. E mesmo assim acumulamos – pelo menos eu acumulei! – alguns fracassos...
Agora, igual ao Rafão... O cara simplesmente não podia chegar perto de mulher alguma que na mesma hora fazia algo que as espantava. Incrível. Era involuntário, e na maioria das vezes nem nós sabiamos o que tinha acontecido, mas as gurias não suportavam ficar perto do cara. Desde que se mudou para o exterior, não tive mais notícas dele, mas dizem que continua sozinho.
Evidente que o objetivo eram as gurias. Alguns, como o Julinho e o Ricardo, faziam as garotas comerem nas suas mãos. Era impressionante. Não tinha noite que eles não se dessem bem. Há quem diga – eu nunca via, mas dizem com tanta convicção que pode até ser verdade – que o Julio certa vez sai agarrado com duas amigas simplesmente porque não conseguia decidir qual das duas era a mais bonita.
Já outros, como o Cenoura e eu, ralávamos para ter uma chance com as gurias. Não eramos de todo ruim, mas conseguir mostrar para aquela guria no balcão do bar ou na pista de dança que eramos o cara ideal era sempre uma tarefa estafante. Recompensadora, óvio, mas cansativa. E mesmo assim acumulamos – pelo menos eu acumulei! – alguns fracassos...
Agora, igual ao Rafão... O cara simplesmente não podia chegar perto de mulher alguma que na mesma hora fazia algo que as espantava. Incrível. Era involuntário, e na maioria das vezes nem nós sabiamos o que tinha acontecido, mas as gurias não suportavam ficar perto do cara. Desde que se mudou para o exterior, não tive mais notícas dele, mas dizem que continua sozinho.
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010
A Hora
-->
Não importa o quanto sejamos bravos, nunca estaremos preparados para o momento final. Para a morte. A procura de religiões muita vezes representa um meio de lidar com a dor – da perda de um ente amado próximo ou mesmo de encarar a derradeira verdade. Mas seja como for, o ser humano é apegado demais à vida.
Foi no início do inverno que Carolina sentiu as primeiras dores. Em sua juventude, foi uma mulher de fibra, à frente de seu tempo. Ainda cedo ficou órfã. Juntamente de sua irmã menor, foi para um orfanato público. Deus, como Carolina odiava aquele lugar. Quando moça, durante o curso de magistério, sentiu aquelas mesmas dores. Lembrava-se perfeitamente. Pareciam cólicas, como se facas atravessassem o interior de sua barriga deixando cortes extremamente sensíveis. Agora, muitos anos depois, no auge dos seus oitenta e cinco anos, as facas afiadas e pontiagudas voltaram a dilacera-la por dentro.
A manhã, ainda fria, não era nada convidativa. A geada no patio da casa era a prova visível do frio que persistia aos primeiros raios de sol. Ainda assim, com frio e com dores, Carolina decidiu sair da cama. As dores eram familiares. Já experimentara algo assim antes. E esperava resolver a situação como da outra vez: com um bom e forte chá. Sentou na cama, botou as chinelas e levantou-se para vestir seu chambre de chifom que ficava convenientemente colocado sobre o encosto de uma cadeira antiga de estofado aveludado ao lado da cama. A um piscar de olhos, acordou na cama do hospital.
Assinar:
Postagens (Atom)