Muito importante para todos os que lerem as postagens: por vezes estarei falando sério, postando opiniões próprias. Outras vezes estarei brincando com opiniões que poderiam ser minhas, mas não são. E por vezes postarei material totalmente fictício, frutos da imaginação e talvez um pouco influenciados pelas experiências acumuladas ao longo dos anos.
Distinguir o que é realidade e o que é ficção fica a cargo de cada um.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

O tempo passa, o tempo voa

Não foi nada fácil encarar o tempo passar e saber que não estava eu a escrever algo para o blog.

Eram quarenta dias sem sequer por os dedos a escrever algo, qualquer coisa. Muito do que escrevo não toma forma - ou não toma a forma que eu desejo - mas mesmo assim eu sempre busco escrever, até para ver até que ponto consigo desenvolver um estilo, ou uma habilidade ou, simplesmente, criar uma disciplina.

Mas em quarenta dias, tudo que fiz foi me preocupar com o trabalho e, sobretudo, com as contas. Idéias surgiram muitas, e espero com calma transformá-las em histórias, contos, crônicas ou seja lá o que for que eu aqui escrevo.

Em meio ao primeiro e segundo turno de nossas eleições, sobretudo em meio a enormes desilusões políticas, surgiu-me a idéia de um conto alegórico, quase infantil. Decidi então, para não deixar outubro passar em branco, "por no papel" a idéia, e deixá-la crescer e tomar sua forma.

O resultado final agradou-me - embora eu desejasse que fosse ainda melhor!

Espero que aprovem o resultado.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

O Causídico - Episódio 2: Cartão de Visitas

Andando apressado pelos corredores da Justiça do Trabalho, Paulo sentia o nervosismo comum aos novatos. Estava em cima da hora para a sua primeira audiência como profissional autônomo. Sentia-se estranho, como se todos os demais advogados e estagiários presentes ao fórum trabalhista o estivessem olhando e, pior, julgando. Vestia um quase confortável terno preto de microfibra, desses simples e baratos de cento e noventa e nove reais, comprado na véspera com a intenção de impressionar seu cliente. Os sapatos eram os mesmos de sua formatura, mas estavam bem polidos. Na mão esquerda carregava a maleta de couro preta, já bastante gasta, que foi de seu falecido pai.

Chegou ao sexto andar do prédio dois e foi direto para o banheiro. Segundo seu relógio, ainda tinha cinco minutos antes da audiência. Para os padrões de prédios públicos com grande movimento de pessoas, aquele banheiro até que era razoavelmente limpo. Paulo de Tarso procurou um lugar para largar a sua pasta e, então, após retirar o relógio de pulso, abriu a toneira e lavou o suor do rosto. A sensação da água fria o fez relaxar e permitiu que readquirisse a tranquilidade necessária para encarar a audiência. Com o rosto ainda molhado, apoiado com as mãos na pia, olhou fixamente através do espelho nos próprios olhos.

- Eu consigo – disse, enfim, para si mesmo, pronto para voltar ao saguão de espera do andar. Somente então percebeu que o banheiro não tinha toalhas de papel...

Ainda com o rosto molhado, o apito agudo dos auto-falantes soaram. Em seguida, o pregão para sua audiência foi feito por uma suave e agradável voz feminina, que pronunciava cuidadosamente os nomes das partes.

- Atenção para a audiência das oito horas e trinta minutos. Décima quinta Vara do Trabalho. Sr. Clóvis Abreu Dilcant, reclamante, e Pasquali Empreendimentos e Construções S.A.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

With a little help from my friends...

“Cara, se acontecesse um cataclismo e nós ficássemos sem eletricidade, como que sobreviveríamos?”

“Como assim? Sem eletricidade por quê? Cataclismo nuclear, zumbi ou rebelião das máquinas?”

Com esse curto diálogo, Vitto e eu tentamos imaginar como seria a luta por sobrevivência, primeiro, em um ambiente moderno em que a energia elétrica não mais fosse suprida. Ou seja, permanentemente sem luz (praticamente como acontece nos verões com CEEE!).

Ocorre que sem luz é o mínimo dos nossos problemas. Por certo aconteceriam tumultos e convulsões sociais, escalada de violência urbana (sobretudo à noite), crises humanitárias em virtude das dificuldades em áreas estratégicas, principalmente na medicina... Mas a humanidade sobreviveria ao fim da eletricidade. Afinal, nosso mundo elétrico é recente, apenas trezentos anos frente à 5 mil anos de civilização humana.

A falta de luz, portanto, somente seria um dos reflexos de algo pior. E foi assim que o Vitto me lançou o desafio: imaginar como sobreviveriamos, em Porto Alegre, a um cataclismo que ameaçasse a própria existência dos seres humanos. Pensando nisso, perguntei: “cataclismo nuclear, dos zumbis ou das máquinas?”. Afinal, dependendo do acontecido mudam-se as estratégias...

“Nuclear”, me respondeu Vitto. “Guerra atômica. Inverno nuclear no mundo. Como nós vamos sobreviver em Porto Alegre?”

Respondo agora o que disse a ele. É simples. Morremos todos. Porto Alegre não possui subterrâneos, de forma que não teríamos como nos abrigar das intempéries radioativas. Como faz falta um metrô...

“Faz sentido... Zumbi, então? Qual teu plano?”

Aí o bicho pegou... Apesar de confiar que sobreviverei a um cataclismo zumbi ou das máquinas, sei que teria enormes dificuldades, inclusive sendo incapaz de evitar a morte de muitas pessoas amadas.

Acabou minha carona e o assunto, tão instigante quanto divertido, foi posto de lado. Todavia, confesso que desde que tivemos essa conversa não consegui deixar de imaginar como seria uma situação extrema, de nós, meros portoalegrenses, sobrevivermos a uma hecatombe zumbi.

Antes de me lançar ao teclado do computador e tentar escrever algo, decidi fazer um brainstorm – ou tempestade cerebral, que aliás seria um termo muito bacana em língua portuguesa... - com a ajuda de vocês, meus amigos que me prestigiam dedicando seu tempo lendo meus textos.

São questões fundamentais:

Qual o tamanho ideal de um grupo para a sobrevivência, considerando a escassez de recursos e alimentos?
Qual a melhor estratégia: guardar uma única posição ou a mobilidade?
Qual o melhor lugar para se esconder, em nossa cidade?
Como enfrentaríamos os zumbis quando o combate (ou embate, como preferirem) fosse inevitável?

Honestamente, já tenho algumas ideias, mas realmente gostaria da maior participação possível, com opiniões e argumentos (prós e contras) e assim, talvez, escrever uma história de como sobreviveremos ao cataclismo zumbi em Porto Alegre!

Saudações a todos.





P.S.: eu precisava de um título para o post, e não consigui apagar a música da minha mente. Então...

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

O Causídico - Episódio 1: A Entrevista

Pouco escritórios de advocacia equiparam-se ao escritório Raimundo Flach e Advogados Associados. As portas e esquadrias, todas em madeira de lei, contrastavam elegantemente com o piso de mármore negro polido. O luxo do ambiente de trabalho era finamente acabado com móveis desenhados e produzidos especialmente por famosa grife europeia – a ponto de ser o único na América do Sul a contar com tal desprendimento, segundo a revista de celebridades. Mas a elegância do escritório, que ocupa todo o nono e décimo andares do seu prédio no bairro Moinhos de Vento, o mais nobre de Porto Alegre, somente é possível pela impecável qualidade – e sobretudo resultados – que seus profissionais dedicam ao serviço oferecido aos clientes.

Naquela manhã de quarta-feira, Paulo suava frio, nervosamente, à espera de sua entrevista. Aquela oportunidade, de ser contratado pelo melhor escritório de advocacia do Estado – quiçá do Brasil, como se comentava nos corredores do Tribunal de Justiça – era única. E Paulo não desejava desperdiçá-la. Sua entrevista estava marcada para as dez da manhã. A recepção, antes cheia de candidatos àquela mesma vaga de Paulo, agora estava vazia. Paulo era o último. E lá estava ele, humilde, recém-aprovado no exame da Ordem dos Advogados e vestindo seu único terno.

Paulo observava insistentemente o ambiente. Não se parecia com nada que já tivesse visto antes. Como estagiário, trabalhou em órgãos públicos e em pequenos escritórios, tudo devidamente documentado no curriculum vitae que se amassava em suas mãos suadas. Mas a imponência daquele escritório, e sobretudo do nome de seu advogado maior – Raimundo Flach, apontado por alguns como o expoente da advocacia sul-americana – destacado em letras metálicas e douradas na parede da recepção fazia com que Paulo sentisse como se estivesse num ambiente nocivo, ao qual não pertencesse. Respirou fundo e dominou sua timidez. “Eu sou capaz.”, pensou consigo mesmo.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

O Vinho do Julinho

Gosto de cerveja. Sempre gostei. Não apenas eu, mas meus amigos também. Nós, da turma da praia, somos entusiastas. Apreciamos a boa cerveja a ponto de nos recusarmos a beber qualquer cerveja barata nacional que os butecos tentam nos empurrar. Exceto, claro, nas noites quentes de verão, quando saímos nos bares da praia. Parece até pegadinha: justamente na época de maior consumo, os bares oferecem menor variedade. Aliás, nenhuma variedade. É aquela ceva e deu!

Enfim, como disse, somos todos amantes de uma boa cerveja. Eu prefiro ales. Cenoura e Rafão adoram cerveja weiss (trigo, em alemão, pra quem não saiba). Ricardo vai de pilsen, a mais tradicional para os paladares brasileiros, mas sempre tem uma cerveja estrangeira para experimentar, sempre coisa boa. Mas o Julinho... Ah o Julinho, de uns tempos pra cá virou amante do vinho. Rafão, com sua sutileza, diria que vinho é coisa de viado. Ou veado. De maricas, que seja.

Julinho chegou ao cúmulo de, no último ano, presentear a todos nós – Cenoura, Ricardo, Rafão e eu – com uma garrafa de vinho cada. Sempre o mesmo vinho. Um bordeaux, de espécime caríssima, de altíssima qualidade, que jura ele ter pago uma pechincha: apenas noventa e nove dólares pela internet.

- Coisa muito boa esse vinho – insistia Julinho, sempre que presenteava algum de nós. - Especial para beber com aquela gata, ouvindo um som bacana, e aí... PIMBA. Sabe? É tiro dado, jacu deitado.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Ponto Rock

Sempre preferi as morenas. Não sei porque, mas há algo de sensual na forma como refutam a futilidade loira. Gosto de louras também, mas as morenas dominam meu horizonte. É assim, não adianta. Cada um tem suas taras e predileções. Para Ricardo, por exemplo, pouco importa se é alta ou baixa, loura ou morena. Tem que ser gostosa. O Cenoura não admite, mas todos sabem que ele é fissurado em japinhas (ia dizer “asiáticas”, mas aí iria soar tão falso...). O Rafão, por outro lado é seguidor da filosofia do síndico Tim Maia: a mulher ideal é aquela que não tem pau...

Para essas e todas as outras preferências, existia o lugar ideal. O Ponto Rock. A melhor danceteria/discoteca/casa noturna/boate/ou seja lá qual for a porra de nomenclatura atual que já existiu na praia, quiçá no mundo. O oásis para onde iam todas – eu disse todas – as gostosas do litoral.

Aquele era um lugar mágico. Era, porque nada que é bom dura para sempre. Nos fins de semana, quando suas portas abriam-se, o céu de verão era sempre estrelado e a lua sempre cheia. Construído à beira de um lago, não possuía paredes, de forma que a brisa marinha constantemente fazia arrepiar as deliciosas gurias suadas na pista de dança. Os bares, estrategicamente posicionados ao redor da pista central, derramavam litros e litros de álcool sobre os frequentadores, tudo com o único e flagrante objetivo de permitir a pegação ao som do melhor rock´n´roll.

Como dito, mágico.