Muito importante para todos os que lerem as postagens: por vezes estarei falando sério, postando opiniões próprias. Outras vezes estarei brincando com opiniões que poderiam ser minhas, mas não são. E por vezes postarei material totalmente fictício, frutos da imaginação e talvez um pouco influenciados pelas experiências acumuladas ao longo dos anos.
Distinguir o que é realidade e o que é ficção fica a cargo de cada um.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Plantão noturno

Hoje o dia foi, todo ele, uma preparação. Tanto psicológica quanto logística. Sempre é assim nos dias (e noites) em que a Taísa tem plantão.  Nessas datas, minha rotina muda completamente para que eu possa estar em casa a permitir que, as 19 horas (horário de Brasília), Taísa possa entrar no seu plantão noturno.


Hoje, por exemplo, foi um desses dias. O almoço, a ida ao supermercado, a hora do banho, tudo foi pensado deliberadamente para que, chegado o fim da tarde, Tita fosse para o plantão e eu ficasse sozinho com o Henrique durante a noite.


Por mais prazeroso que se seja, é uma responsabilidade enorme. Henrique ainda está na fase em que precisamos manter um olho em cima dele a todo instante. Qualquer saída do ambiente é corrido, às pressas. Em todas as vezes que preciso deixá-lo sozinho (normalmente brincando dentro do berço ou em cima da cama), sem exceção,  meus ouvidos se aguçam e passo a escutar todo e qualquer suspiro que ele dê.  Sem exageros.


Mas a tensão maior é durante a madrugada.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Gauchos das Sombras - s02e02 - Ao resgate

Finalmente a nuvem de poeira sentara. Por detrás de uma antiga taipa, Aline espreitava à distância com um velho e ultrapassado binóculo militar Steiner -Mills 720 7x90 R. Provavelmente sobra do exército rebelde do sul na Insurreição dos 30 Dias, vários anos atrás. A Insurreição fora a origem do Novo Movimento Farroupilha, que iria desencadear a independência arduamente conquistada pelo Rio Grande contra a opressão e tirania do Império Democrático Pan-Brasileiro – ou seja lá qual fosse a nomenclatura atual dada ao poder central de Brasília.

Deitada no chão árido do Sertão Pampeano, considerada a regi]ao do planeta mais hostil ao sul do Trópico de Capricórnio, Aline se perguntava onde teria aquele homem albino conseguido o equipamento necessário para encarar o terreno a céu aberto. O sertão – ou deserto, como alguns estudiosos da Universidade Livre do Rio Grande do Sul já começavam a chamar – estendia-se de Bagé a Itaqui e penetrava em áreas da pampa argentina e uruguaia. Os gaúchos que insistiam em viver das tradições foram obrigados a abandonar as casas de fazenda e passaram a morar em bunkers construídos abaixo do solo. A radiação proveniente do sol fizera com que metade da população desenvolvesse algum tipo de doença de pele – ou assim lhe disse o albino misterioso ao justificar sua aparência fantasmagórica. Os uniformes utilizados eram versões terrestres dos uniformes russos utilizados quando das viagens tripuladas a Marte, capazes de suportar os raios solares em ambientes sem nenhuma proteção de ozônio, como a seca pampa da fronteira gaúcha. Kid – assim se identificara o albino – insistira naquela missão como sendo a única forma de resgatar Getúlio.

- Eu já te disse, princesa – Aline torcia a cara cada vez que era chamada daquela forma, mas desistira de corrigir o homem depois da quinta vez – os castelhanos pegaram Getúlio. E nós somos os únicos que podemos ajudá-lo.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Gauchos das Sombras - s02e01 - Frio


A sala era estéril. As paredes revestidas para suportar o intenso frio da câmara frigorífica criavam, juntamente com as estantes de metal, um ambiente desolador. As luzes, apagadas, completavam o cenário. Apenas a placa de “saída” sob a porta sem trinco emitia uma leve luminescência vermelha sobre o peito nu de Getúlio.

Desacordado, o corpo de Getúlio começava a acusar os efeitos do frio extremo. Pendurado pelos pulsos algemados, tal qual os grandes pedaços de carne bovina, Getúlio delirava. Sua mente ainda vagava em meio à memórias da tortura sofrida. Uma massagem especial para amaciar a carne.

Getúlio acordou com o barulho da pesada porta da câmara frigorífica se abrindo. Mal podia respirar, tão forte o frio que lhe ardia nas narinas. Seus pulmões estavam prestes a explodir, parecia. Getúlio lutava para manter-se alerta, mas as surras sofridas nas últimas horas faziam com que seus sentidos pedissem trégua e tentassem, a todo momento, mergulhar na inconsciência. A visão, turva pelo sangue congelado em seu supercilio, dava a Getúlio noção do castigo que lhe fora imposto. O torturador argentino certamente era um expert no ofício. Tentou esboçar algum movimento, algum mecanismo de fuga. Em vão. Seu corpo, coberto de hematomas e marcas de queimadura, não respondia. Viu, então, seus dedos das mãos e pés roxos. O frio cobrava seu preço. Getúlio, ao que parecia, estava prestes a ter de pagá-lo.

sábado, 19 de novembro de 2011

O Fator Panda

Seja você um evolucionista-darwiniano ou um criacionista religioso, é inegável que o  ser humano, sob todas as óticas, é um prodígio. Afinal, em um ambiente rico e diversamente variado, o homem – aqui usando-se o termo como espécie humana, sem sexismos – é o ser vivo com o maior sucesso dentre todos. Não por acaso se anunciou, recentemente, o nascimento do humano número 7 bilhões aqui no Rio Grande do Sul (ou assim falou a Zero Hora...).

Na verdade, o sucesso da raça humana impressiona. Afinal, como se poderia imaginar que uma raça que produz filhotes absolutamente inúteis poderia perseverar a ponto de dominar o planeta? Não se engane o leitor: bebês humanos são a expressão da inutilidade.

Pense bem: um bebê, após nascer com vida, torna-se dependente de sua mãe – e do grupo familiar, que precisa proteger e dar suporte à mãe – para tudo, especialmente para alimentar-se. Isso sem adentrar no mérito de que nos primeiros MESES – não semanas, não dias, mas meses – de vida, a criança dependerá exclusivamente do leite materno. Somente após conseguirá alimentar-se de outros alimentos sólidos – e ainda assim sem desmamar completamente. Em tempos atuais, de internet banda larga e calças de tactel, fica fácil conceber e conviver com a fragilidades de um recém-nascido. Mas imagine a 2 mil anos atrás? Ou a 15 mil anos atrás, quando o homem vivia em cavernas, ainda aprendia a dominar o fogo e fugia de animais de dentes afiados ávidos por carne de, bem, deu pra entender...

Como que o ser humano conseguiu perseverar a ponto de chegar a 7 bilhões de indivíduos quando a simples sobrevivência de uma criança é tão complicada? Como explicar que toda uma estrutura social se formasse ao redor do núcleo familiar apenas para proteger um indivíduo indefeso que passará 9 meses mamando no peito da mãe, demorará um ano para começar a andar e atingirá a maturidade física apenas aos 15 anos? O que fez com que o homem das cavernas – ou mais longe ainda, o elo perdido do homem-primata – não abandonasse a sua cria recém-nascida, tão trabalhosa e, de novo, inútil?

Graças ao Fator Panda.

Prometi, agora cumpro

Postei em meu twitter (@pedrokraemer) que minha próxima postagem seria sobre o Fator Panda. Fator Panda é o nome dado por mim para designar o sucesso da raça humana, agora com 7 bilhões de pessoas no planeta.

Prometi, agora cumpro.

Mas admito que demorei para coseguir escrever este post. Durante esse mês de intervalo nas postagens, surgiram ideias ótimas de textos - inclusive um novo capítulo de O Causídico, que poderia levar à retomada da serie. Mas me senti obrigado a postar antes O Fator Panda.

Leiam e aprendam algo sobre biologia que nunca foi dito em sala de aula!

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Os Ipês da Beira da Estrada

Certas coisas não são como nos filmes.

A viagem de Carlos estava marcada há mais de semana, mas mesmo assim ela não parecia real. Passara os últimos dias debatendo com seus colegas de trabalho sobre a real necessidade de fazer os mais de quatrocentos quilômetros – oitocentos, ida e volta – que separam a capital da fronteira oeste apenas para conferir documentos de um processo. Todos, sem exceção, lhe diziam:

- É um processo importante, de nosso mais importante cliente. É necessário ir.

Vencido, porém não convencido, Carlos ainda não desejava encarar a estrada. Muito embora rodasse mais de mil quilômetros todos os meses a trabalho, aquela viagem não lhe parecia certa. Havia algo no fundo de sua mente que lhe dizia “fica em casa com teu filho, é melhor”. Mudou de tática. Novamente abordou seus colegas e seus superiores. Talvez outra pessoa pudesse ir até lá ver o tal processo. Não haviam contratado um cara novo justamente para que Carlos ficasse mais tempo dentro do escritório, cuidando de assuntos mais importante?

- Mas este processo na fronteira é muito importante – diziam os colegas de Carlos. - Tu és quem mais tem experiência sobre este assunto. Tu és a melhor indicação para ir até lá e ver estes documentos.

E assim, sentindo-se derrotado, Carlos foi dormir na véspera. O coração pesado, o carro abastecido.

domingo, 4 de setembro de 2011

Guerra dos Sexos


 Liberdade sexual. Essa foi a verdadeira revolução da segunda metade do século XX. Foi a partir da mudança de dogmas quanto à sexualidade humana que homens e mulheres – sobretudo as mulheres – passaram a ter o comportamento que diferencia a sociedade atual daquela de apenas cinquenta anos atrás.

Isso, todavia, não evitou que a namorada de Jáder, Rafaela, continuasse presa a alguns pudores.

Jáder a Rafaela estavam namorando há cinco anos, já. Sempre foram cuidadosos – jamais tiveram outros parceiros depois do início de seu relacionamento e usavam sempre camisinha. Mas com o tempo, Jáder começou a cansar.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Eu Amo Escrever

Por uma feliz coincidência, conheci o site Eu Amo Escrever através de um post publicado no Facebook pela minha amiga Camila Leães (http://cadeobb.blogspot.com/) em que ela pedia votos para o conto escrito por uma amiga sua. Decidi entrar no site e conferir.

Descobri que até sexta-feira (hoje, portanto) os responsáveis pelo site - Cantão, Livro Ilimitados - estavam recebendo textos para participar de uma seleção para a publicação de um livro de contos de novos autores. Foi aí que pensei: "Por que não?"

Enviei um texto que escrevi no início de 2009, que estava esquecido aqui no Pedrão Total, mas que era um texto que me deu enorme satisfação ao escrever, pois foi cada palavra foi pensada para mostrar o peso emocional pretendido no fim do texto.

Agora, o mais legal: se vocÊs, meus amigos e meus leitores, votarem em "No Quarto Escuro" no site Eu Amo Escrever, ele poderá ser selecionado para as fases finais. Se no fim ele for um dos contos selecionados para serem publicados em livro, além dos prêmios, receberei o melhor presente: o incentivo de continuar escrevendo.

POR ISSO, ENTREM NO SITE E VOTEM: No Quarto Escuro

domingo, 31 de julho de 2011

A Lenda do Dragão-de-Quatro-Cabeças

 Era uma vez, em um reino há muito tempo atrás, um feiticeiro muito, muito poderoso. Seus poderes mágicos e sua sabedoria eram os maiores de todo o reino. Este Feiticeiro era o melhor amigo do Rei e por isso era seu conselheiro. Juntos eles cuidavam do bem estar de seus súditos.

Um belo dia, o Rei recebeu um mensageiro que trouxe um terrível notícia. Um dragão, enfurecido e descontrolado, estava a atacar o interior de seu país. O Rei mandou chamar seu velho amigo e lhe disse:

- Velho amigo Feiticeiro, preciso de sua mágica. Você deve conter este dragão.

- Certamente, meu amigo e meu Rei – respondeu o Feiticeiro, sem nenhum medo em sua voz. Mas esse dragão não é um dragão qualquer. Esse dragão é o amaldiçoado Dragão-de-Quatro-Cabeças, para sempre amaldiçoado com uma fome interminável. Suas quatro cabeças cospem fogo pela boca. Seus dentes são afiadíssimos. E suas línguas possuem venenos capazes de matar um homem. Eu sou muito velho para enfrentar o perigo sozinho. Para derrotar o Dragão-de-Quatro-Cabeças eu precisarei da ajuda de outros três corajosos e valorosos companheiros.

História de Ninar?

Uma das fotos que mais gosto com o Henrique é esta aqui a direita, em que ele olha fixa e maravilhadamente para nosso lustre sobre a mesa de jantar.

É muito engraçado a forma como, todas as notes, quando ele está choroso, basta eu chegar perto do lustre para que ele encare a luz com seus olhinhos e esqueça tudo de ruim que possa estar acontecendo. Sua fascinação é tão genuína e ingênua que nos contagia de uma forma prazerosa.

No dia em que tiramos esta foto, meio sem querer inventei a primeira história fantástica para o Henrique. Primeiro veio o nome do personagem - no caso, o lustre - e depois a história por traz deste objeto hipnotizante.

Nasceu assim, A Lenda do Dragão-de-Quatro-Cabeças.

Ao contrário do Henrique, que caiu no sono, espero que vocês gostem desta pequena aventura.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Pais, Filhos, Barbas e Futebol

Os momentos entre pai e filho são marcantes. Isso porque, diferentemente da relação entre a mãe e sua prole, o pai moderno volta ao trabalho apenas 3 dias depois do nascimento. O contato com o filho fica restrito, portanto, ao início da manhã e à noite. O coração, a cada despedia, dói. Dói demais... Pela manhã a criança pede pela mãe, para mamar. À noite, dorme. Sobra então trocar as fraldas na madrugada, mas aí a trabalhar no dia seguinte...

Foi pensando nesses poucos momentos para curtir o meu filho que cheguei em casa. Eram quase oito horas da noite. Para os antigos, hora da janta e da novela. Para mim, hora de pegar meu guri no colo. Cheguei desesperado por um banho e uma muda limpa de roupa, afinal passara o dia na rua e estava sujo. Longe de mim emporcalhar ou contaminar com algum germe o piá. E, após um beijo na testa, me fui para o chuveiro.

De roupa limpa (OK, pijama), fui tomado por uma estranha compulsão. Eu tinha que fazer a barba. Simplesmente precisava. Foi como se estivesse a ouvir meu pai contar aquela mesma história pela nonagésima vez.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Artêmia é que era mulher de verdade

Artêmia foi uma mulher especial. De fibra. Muito antes de feministas queimarem sutiãs em praça pública em 1968 (o que parece que não foi bem assim que aconteceu, mas isso é outra história), Artêmia Vasconcellos foi uma mulher moderna, a frente de seu tempo. Um modelo para gerações por vir.

Nascida em Alegrete no distante século XX, em 05 de dezembro de 1921, filha de Martimiano Vasconcellos e Izoletina Barros Vasconcellos, Artêmia atravessou uma difícil infância. Filha mais nova do casal, é dito que sua mãe nunca se recuperou de uma grave crise de puerpério, fruto de duas gestações consecutivas. Neysa Maria, a irmã mais velha, nasceu em janeiro de 1921, apenas onze meses antes. Ainda cedo, com apenas cinco anos, perdeu os pais. Órfãs, as irmãs Artêmia e Neysa Maria foram enviadas pela família para o internato de freiras do Colégio Sant’Ana, em Uruguaiana,  onde passaram a infância e adolescência.

A minha vó...

No final do ano passado fomos tomados pela surpresa - grata surpresa - de que minha vó Artêmia seria homenageada pela Câmara de Vereadores de Carazinho. Evidente que fiquei feliz por ela. Mas fiquei feliz mesmo pela oportunidade de sentar e lembrar de todos os momentos que passei ela.

Agora, em 2011, o vereador Gilnei Jarré apresentou proposta para nomear, em mais uma homenagem, o espaço de reuniões dos vereadores de "Sala de reuniões Artêmia Vasconcellos Schlichting".

Carazinho ficou no passado após a morte dos meus avós. Mas é gostoso saber que a memória deles continua viva.

A seguir, uma pequena biografia que mandei para a Câmara Municipal de Carazinho.



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Leia também:
Carazinho 
Heróis
Santinha

sábado, 5 de março de 2011

Outros Carnavais

Carnaval nunca foi a minha. Samba, axé, pagode, música brazileira, jamais foram da minha preferência. Não entendo como pode milhões de pessoas perderem seu tempo vendo gente semi-nua atravessando uma avenida de ponta a ponta em fantasias e festejando uma data que em nada remonta à origem das festividades. Afinal, Carnaval era uma festa cristã para marcar o início da quaresma. Mas ao que tudo indica, nem os padres lembram mais disso...

Enfim, Carnaval nunca foi minha praia. Mas houve um tempo em que a noite de sexta-feira, do grito de Carnaval, era de uma ansiedade. Em nossa juventude, meus amigos – não preciso dizer quem – e eu encarávamos os Bailes de Carnaval como noites mágicas. Eram Bailes como nos tempos de nossos pais, com banda, marchinhas, muita diversão. Honestamente, íamos porque queríamos a nossa chance com as gurias. Mas isso não explica a emoção que tomava conta de nós. Nós curtíamos aqueles bailes com uma solenidade espantosa.

Eu poderia dizer muitas e muitas coisas contra o Carnaval. Sobre como os axés e créus da vida estragaram uma festa que, de tão divertida, cativou até mesmo um crítico odioso como eu. Eu podia dizer que a sexualização do Carnaval, com jovens buscando apenas desculpas para extravasar os hormônios reprimidos, vulgarizou ainda mais o evento. Eu poderia perguntar como é que aguentam música ruim tanto tempo?

Mas de nada adianta.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Santinha

Fé. O dia dois de fevereiro é reservado, por muitos, para a fé. Especialmente em Nossa Senhora dos Navegantes, ou Iemanjá, conforme o sincretismo religioso praticado no Brasil. Mesmo não pertencendo a nenhuma religião específica, é difícil para quem possui  em sua alma espaço para a religiosidade (aqui referida em abstrato, de forma genérica) ficar alheio às demonstrações de fé ao seu redor. O dia dois de fevereiro, como poucos outros dias do ano, é marcado pela presença divina.

Meu avô Aldo era um homem de fé. Nunca o vi praticar nenhuma religião oficial, com seus dogmas e ritos de fé estabelecidos. Contudo, meu avô carregava sempre consigo uma corrente fina de ouro com uma medalhinha, não maior que uma moeda de cinco centavos, mas muito, muito mais delicada. Era dourada, delicada, antiga. Eu nunca soube se tivera outro dono antes dele. De um lado da medalhinha está gravado em relevo São Jorge, em seu cavalo, com a poderosa lança com que matou o dragão. Do outro lado, como que a contra-balançar a força, está a suavidade e sabedoria feminina da Iemanjá, a proteger meu avô e a toda a família. Era para ela que meu avô dirigia suas preces. Era para ela que meu avô me ensinou a rezar. Para a nossa Santinha.